Aliança da Soja

Postos de trabalho na cultura da soja aumentaram 22% em 2021

Mão de obra envolvida na cadeia do grão costuma ser mais qualificada do que a média, mas terá de se especializar ainda mais para atender os requisitos da agricultura de precisão

O agronegócio representou quase 30% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2021. Além disso, teve importante participação na geração de empregos no país. Segundo o pesquisador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro), Felippe Serigati, apesar das turbulências trazidas em 2021 pela questão climática, flutuação cambial e pelo movimento da inflação, o desempenho positivo do setor é inegável. Nessa esfera, o número de postos de trabalho envolvidos na cadeia da soja foram ainda mais relevantes.

“A cultura da soja registrou uma expansão de 22% no número de geração de empregos. Para se ter uma ideia e podermos comparar, as atividades agropecuárias como um todo, incluindo todas as lavouras e atividades, também registraram uma expansão no número de população ocupada, mas de 8,1%“, conta.

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Foto: Ministério da Agricultura

Para ele, ao considerar que 2021 foi um ano de recuperação econômica devido aos impactos da pandemia de Covid-19, os números alcançados pela oleaginosa chamam ainda mais a atenção. Sobre a remuneração média das vagas na cadeia do grão, descontados os efeitos da inflação, Serigati aponta que atingiu R$ 3.250,00, a segunda maior do setor agropecuário, atrás apenas dos produtores de sementes, que obtiveram pouco mais de R$ 4.800,00.

“No entanto, embora a remuneração média da soja seja a segunda maior entre as atividades agropecuárias, ela perdeu da [alta da] inflação, ou seja, esse número representa uma contração em termos reais. Assim, o poder de compra de quem atua com a força de trabalho dentro da cultura da soja ficou, infelizmente, menor ao longo de 2021”, constata.

Safra de soja 22/23

De acordo com o pesquisador, dentro das atividades agropecuárias, a da soja é a que tem, historicamente, uma das melhores remunerações. Isso por conta do tipo de mão de obra que esse tipo de cultura acaba contratando, em geral mais qualificada do que a média do setor. “Olhando para a safra 22/23, esse quadro em si não deve mudar, mas temos desafios importantes. A inflação em 2022 será menor do que a de 2021? Sem dúvida alguma. A projeção do Banco Central é de uma inflação em torno de 5%, levemente abaixo disso, bem diferente da de 10% de 2021. Ainda assim, não é pouca coisa, mas é uma pressão menor sobre o poder de compra do setor”, explica.

Entretanto, segundo ele, a conjuntura econômica herdada de 2021 faz com que a inflação não seja o único problema do produtor de soja, que ainda enfrenta as altas nos custos de fertilizantes e defensivos. “Essa situação, esses custos elevados para os insumos de produção ou até mesmo a dificuldade em acessá-los, contrai a margem do produtor e do setor. Naturalmente, parte disso, pode terminar justamente na demanda por mão de obra – sendo que em 2021 foram 492 mil postos de trabalho na soja – seja com uma demanda menor ou em uma remuneração que não consiga recuperar as perdas registradas em 2021″, projeta.

Agro 4.0

Tecnologias e estruturas digitais no campo, o chamado Agro 4.0, já são uma realidade ou ainda estão longe de serem aplicadas? Para o CEO da Agrusdata, Herlon Oliveira, o próprio RTK (Real Time Kinematic, ou posicionamento cinemático em tempo real), uma tecnologia muito procurada e que vem sendo aprimorada há anos e que permite a capacidade do plantio da semente ou da pulverização em linha reta, com assertividade milimétrica, já é uma tecnologia digital incorporada e assimilada pelo mercado.

Tecnologia no campo
Foto: Pixabay

“Esse é um exemplo de que o digital já está presente no setor. O que vamos fazer a partir de hoje é incorporar outras formas de coletar dados e indicar ações ou não para o produtor para que ele tenha, dentro da agricultura de precisão, a agricultura digital atuando muito fortemente”, diz Oliveira.

Segundo ele, o agricultor já pode esperar dentro dos próximos meses um forte avanço da estrutura 4G no campo, habilitando a Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) nas lavouras, ou seja, trazendo dados em tempo real das colheitadeiras, das estações meteorológicas, dos silos conectados, enfim, em diversos aspectos das atividades executadas no campo.

Oliveira salienta que a carência de mão de obra qualificada para lidar com tais inovações não é uma exceção da agricultura, sendo que a indústria de forma geral também encontra as mesmas barreiras. Assim, para ele, a solução é que as políticas de governo fortifiquem serviços de aprendizado rural para que o ferramental digital continue atraindo o público jovem na agricultura, como já vem ocorrendo.

De acordo com o CEO, o grande intuito da agricultura de precisão e digital é avaliar três vertentes: o potencial produtivo de um talhão, o potencial que o produtor consegue atingir na safra e a produtividade real. “Geralmente há uma distância de 40 a 60 sacas de soja entre esses conceitos […]”. Assim, segundo ele, é possível obter redução de custos e aumento de produtividade ao adotar a tecnologia no campo. “Em nossa experiência, geralmente o retorno [do investimento] de toda a infraestrutura de agricultura digital implementada vem em duas, no máximo em três safras”, finaliza.

O programa Aliança da Soja é uma parceria entre o Canal Rural e a Plataforma Intacta 2 Xtend exibido às segundas-feiras, às 13h35, com reprise às terças-feiras, às 6h30.