Meio Ambiente: fim da ‘indústria de multas’ está entre propostas de Evaristo de Miranda
Equipe técnica liderada pelo chefe-geral da Embrapa Territorial elaborou mais de 60 medidas para destravar o setor agropecuário, incluindo simplificação de licenciamento ambiental
Favorito para assumir o Ministério do Meio Ambiente em um primeiro momento e até convidado pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, ao cargo, o doutor em Ecologia e chefe-geral da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, preferiu contribuir tecnicamente com o novo governo.
Ele liderou um grupo de 15 pessoas que elaborou um estudo detalhado sobre a área para ser usado pelo futuro ministro e os comandados da pasta. O documento será finalizado nesta quarta-feira, dia 5, e entregue à equipe de transição.
São diagnósticos administrativos, institucionais e financeiros – uma verdadeira radiografia do setor no país – com uma série de apontamentos e propostas para melhorar a gestão e a coordenação da política ambiental brasileira. Medidas que podem ou não serem implementadas a partir do ano que vem, mas que, na visão dele, ajudariam a destravar a produção agropecuária e industrial no país, além de reduzir gastos desnecessários e errados feitos pelas gestões atual e anteriores.
Contudo, o engenheiro agrônomo com mais de 30 anos de pesquisa acredita que “2019 vai ser um ano muito bom para o meio ambiente, e que ele vai ganhar um status que nunca teve no Brasil. Vai ser realmente uma questão de Estado, transversal, não só restringida a um grupo à parte. Não vai ser usado por pessoas para se promoverem, manterem seus discursos, suas viagens internacionais, suas ONGs. Isso vai ser focado, o dinheiro vai ir para a ponta, para quem precisa.”
Um dos principais apontamentos de Evaristo de Miranda é a necessidade de acabar com a chamada indústria da multa. “Vivemos em um império de arbitrariedade”. Segundo ele, é possível terminar com atos discricionários de agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), por exemplo, com o simples cumprimento da lei ambiental. Para reverter tudo isso, o grupo comandado pelo pesquisador preparou uma série de medidas que serão propostas para melhorar a execução da legislação e dar mais segurança aos produtores. São mais de 60 ações, entre atos, normativas, portarias e outros instrumentos, apenas para a área da agricultura.
O pesquisador defendeu a manutenção do licenciamento ambiental para as atividades agropecuárias, mas sugere o uso dos dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para simplificar o processo. Ele também sugere que empreendimentos mais complexos, como instalações de usinas de cana-de-açúcar, sejam tratados com mais rigor.
Em entrevista exclusiva ao Canal Rural, Evaristo de Miranda ressaltou que boa parte dos recursos na área de meio ambiente não são destinados corretamente para as atividades fim, como a manutenção de parques e reservas nacionais. Um grande volume de dinheiro, ainda não totalmente conhecido, chega nas mãos de ONGs para outras finalidades. “É uma área bastante nebulosa”, disse.
O chefe da Embrapa Territorial pretende atuar como conselheiro técnico do próximo governo para a gestão de dados territoriais que possam ser usados em diversos setores, como agricultura, relações exteriores e infraestrutura. Ele adiantou ainda que quase todos os ministérios terão uma área específica para tratar de meio ambiente, seja por meio de secretaria ou coordenação, o que pode ajudar a reduzir conflitos e melhorar o relacionamento com o ministro da pasta. É o que ele chama de “transversalidade” do tema, para que a política ambiental tenha menos atritos e soluções mais fáceis a partir de agora.
Evaristo de Miranda e o grupo técnico vão apresentar propostas para premiar as boas práticas agrícolas e ambientais, para que o agricultor seja reconhecido e remunerado pela preservação das matas nativas e dos recursos naturais. Ele avaliou que diversos municípios do Brasil já têm programas interessantes nessa área e que podem ser copiados no resto do país. O pesquisador confirmou a ideia de unir o Ibama e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e outras medidas que reduzam o tamanho do Ministério do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro. Confira a entrevista:
Canal Rural: De que forma o senhor tem colaborado com o novo
governo? Como tem sido esse trabalho?
Evaristo de Miranda: No início de novembro, o que nos foi colocado
pelo ministro Onyx, pela futura ministra da agricultura Tereza Cristina e
também pelo presidente eleito era mais ou menos assim: alguns
propõem fundir Meio Ambiente com Agricultura; outros propõem acabar
com o Ministério do Meio Ambiente; outros ainda querem transformar o
MMA em uma secretaria especial, outros propõe criar uma agência
ambiental como o EPA nos Estados Unidos, etc.
Perguntaram o que eu achava melhor. Na ocasião, disse que eu não achava nada, pois era
necessário ver os problemas a serem resolvidos, o que Brasil precisava.
Era preciso fazer um rápido diagnóstico, técnico e institucional do MMA.
Um tema muito complexo. Então, o ministro Onyx e a ministra Tereza
Cristina, com diretrizes do presidente, solicitaram minha contribuição e
eu montei uma equipe técnica, a maioria atuando já no governo federal,
nessa temática.
Um grupo de geometria variável, do Estado brasileiro, requisitado para ajudar, sem salário extra ou qualquer outro tipo de
ganho. A equipe variou conforme a necessidade, mas mantivemos um
máximo de 12 pessoas para não virar algo impraticável. Essa equipe fez
um trabalho em três etapas, duas das quais concluídas. A última se
encerra agora, nesta primeira semana de dezembro.
Na primeira etapa, fez-se um diagnóstico da situação, do Ministério do
Meio Ambiente, Ibama, ICMBio etc. Foi uma análise dos problemas
administrativos, institucionais, operacionais e também da parte técnica.
Para que finalidade esses órgãos foram criados? O que ocorre hoje?
Como os processos são realizados? Como as atividades são
financiadas? Fizemos uma análise da parte técnica e de aspectos econômicos, dos quadros de pessoal, dos cargos e de como esse tema do meio ambiente é tratado nos outros ministérios.
A segunda etapa foi a de analisar as grandes demandas, problemas e
oportunidades de proteção ao meio ambiente e de interface com
agricultura, infraestrutura, transporte, uso da água, cidades etc. A
agricultura, por exemplo, apontou uma dúzia de problemas do mundo
rural com o MMA. Discutimos tais questões tecnicamente e as possíveis
soluções. Muitas vezes há mais de uma alternativa. E também
oportunidades que a agricultura traz para o meio ambiente. Já
apresentamos os resumos dessas duas etapas sucessivamente para a
futura ministra Tereza Cristina e para o ministro Onyx e eles
apresentaram sínteses ao presidente Bolsonaro.
A terceira etapa encerra-se agora: são sugestões operacionais de
possíveis encaminhamentos e medidas concretas, passíveis de solução
em curtíssimo, curto e médio prazo. Nem sempre é uma só, tem várias
alternativas e a decisão será do futuro ministro do Meio Ambiente e sua
equipe.
Atrás dos membros do grupo técnico existem sempre 4 a 5 pessoas, até
10. Mobilizamos mais de 100 pessoas técnicas do Ibama, do ICMBio, da
Embrapa, da AGU, consultoria jurídica, setor privados etc. Um grupo
muito bom. Trabalhamos na Sede da Embrapa, pois lá no CCBB é muito
movimentado. Na Embrapa tivemos apoio de local, secretaria, meios
para produzir documentos, gerar números, mapas, dados e fatos.
Quarta-feira nos reuniremos lá. Foi um trabalho técnico de contribuição
para o futuro ministério, para o Ibama, para que sirvam ao país, ao meio
ambiente. Nada definitivo, pois isso depende dos gestores que virão. E
existem outras contribuições geradas na equipe de transição para o