
É consenso entre agrônomos que o Brasil só figura entre os líderes mundiais na produção de alimentos graças ao uso de tecnologias como os defensivos agrícolas.
Diferente de países de clima temperado, que enfrentam uma ou duas safras ao ano e têm invernos rigorosos que reduzem naturalmente a incidência de pragas, o Brasil está localizado em região tropical e, com isso, cultiva praticamente o ano todo.
Isso significa também conviver com condições ideais para a proliferação contínua de insetos, fungos e doenças agrícolas. Nesse cenário, os defensivos foram decisivos para garantir produtividade e segurança alimentar.
Contudo, o professor-doutor aposentado da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Angelo Zanaga Trapé, ressalta que não se pode fechar os olhos diante do uso massivo desses produtos.
Ainda assim, faz questão de lembrar que os riscos atribuídos aos pesticidas surgem não pelo defensivo em si, mas pelo manuseio incorreto e pela falta de acompanhamento das populações mais expostas.
Por essa razão, o especialista defende a criação de um Programa Nacional de Atenção à Saúde de Populações Expostas a Pesticidas.
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“Trabalhadores rurais que manuseiam os produtos, agricultores envolvidos em atividades de colheita e até mesmo familiares que vivem próximos às áreas de produção podem estar em contato com pesticidas. Isso não significa que estejam intoxicados, mas que precisam de acompanhamento adequado”, destaca Trapé.
Protocolos de monitoramento
De acordo com o professor, o maior desafio está na falta de capacitação dos profissionais de saúde e na ausência de protocolos claros de monitoramento.
“O sistema de notificação ainda é falho. Muitas vezes não se diferencia uma simples exposição de um caso real de intoxicação, o que gera distorções nos dados e prejudica a prevenção”, alerta.
Trapé sugere que o Programa envolva as seguintes iniciativas:
- Atendimento médico especializado para identificar corretamente os casos relacionados à exposição;
- Capacitação dos profissionais de saúde em áreas agrícolas;
- Monitoramento periódico das populações expostas, com exames laboratoriais quando necessário;
- Educação e conscientização sobre o uso correto e seguro dos defensivos;
- Fortalecimento da fiscalização e do cumprimento das normas já existentes.
Defensivo é aliado da agricultura sustentável
Para o professor, a proposta não é restringir o uso de defensivos agrícolas, mas sim dar mais segurança a quem trabalha no campo e reforçar a imagem de um setor sustentável e responsável:
“Quando usados de forma adequada, com equipamentos de proteção individual e acompanhamento de saúde, os pesticidas cumprem sua função essencial sem colocar em risco o trabalhador. O programa traria mais equilíbrio e reforçaria a imagem de um agro sustentável e responsável”, considera.
*Sob supervisão de Victor Faverin