Estamos no limite de uma recessão econômica global, afirma economista

Economia

Estamos no limite de uma recessão econômica global, afirma economista

Depois de dois trimestres consecutivos de PIB negativo, há sinais de que a atividade econômica mundial possa crescer menos de 3% em 2020

economia mundo
Foto: Pixabay

Apesar de a maioria dos economistas acreditar ser muito cedo para falar em recessão técnica global, depois de dois trimestres consecutivos de PIB negativo, há sinais de que a atividade econômica possa crescer menos de 3% em 2020, patamar considerado crítico por especialistas.

O Itaú Unibanco, por exemplo, projeta uma alta de 3,2% na atividade global neste ano e de 3,1% em 2020. “Mas vemos chance de a economia ficar ainda mais fraca. Estamos no limite de uma recessão. Qualquer choque extra, pode levar o mundo a uma crise”, diz Roberto Prado, economista do banco.

As projeções de PIB ainda estão longe de um número negativo, mas um crescimento da economia global abaixo dos 3% é tido como ruim porque a China costuma distorcer os dados, puxando-os para cima com seus crescimentos superiores a 6%, explica Prado. “Um PIB global inferior a 3% indica que a economia está abaixo do seu potencial, se aproximando de uma recessão”, acrescenta.

A opinião é compartilhada pelo estrategista-chefe do BTG Pactual Wealth Management, João Scandiuzzi: “Tecnicamente, não dá para falar em recessão global, mas a sensação é de crescimento abaixo do potencial”, diz. Em julho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu sua estimativa do PIB global para 2019 de 3,3% para 3,2%. Por enquanto, as projeções para 2020 são mais animadoras: alta de 3,5% – até junho, a estimativa do órgão era de 3,6%.

Economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif destaca que só o fato de se estar discutindo a possibilidade de a economia mergulhar em uma recessão já tem prejudicado o mercado. “Isso machuca o mercado, por trazer muita incerteza. O pano de fundo é muito preocupante. Como não se sabe para onde vai a guerra comercial entre China e Estados Unidos, não é possível saber quando a desaceleração vai parar”, diz.

Para Paulo Leme, professor de finanças da Universidade de Miami, não fosse a guerra comercial, seria possível manter o crescimento global ao redor de 3,2% nos próximos anos. “Se tudo mais fosse constante e congelássemos os atores, poderíamos ter um equilíbrio com crescimento razoável”, diz. Leme destaca ser contra uma redução na taxa básica de juros dos Estados Unidos para tentar alavancar a economia. “A inflação está dentro da meta. É muito preocupante responder com instrumento monetário algo que se pode evitar (uma desaceleração global acentuada pela guerra comercial).

Alemanha 

A desaceleração global está em curso desde o ano passado, quando o PIB cresceu 3,6% – 0,2 ponto porcentual a menos que em 2017 – e seria uma fase natural dos ciclos econômicos não fosse justamente a guerra comercial, cujos impactos na economia real começam a se aprofundar.

A Alemanha foi o primeiro país a escancarar os efeitos do embate entre as duas maiores potências do mundo. Sua economia tem um alto grau de dependência de exportações de produtos industrializados, principalmente para a China. Em junho, as exportações alemãs caíram 8% e a produção industrial 5,2 % na comparação com o mesmo mês de 2018 – foi o maior recuo da indústria desde 2009. 

A indústria automotiva, a principal da Alemanha, tem ainda puxado o desempenho para baixo por causa de adaptações a padrões mais rigorosos de emissões de poluentes. 

Por enquanto, a desaceleração no país, cuja economia é a maior da União Europeia, está limitada ao setor industrial. Se atingir os serviços – responsáveis por gerar o maior volume de postos de trabalho -, pode se alastrar por toda a economia. “O mercado de trabalho, por enquanto, está indo bem, a questão é quanto de contaminação veremos”, diz Scandiuzzi, do BTG Pactual.

Brasil

O estrategista do banco afirma que o Brasil não deve sofrer muito com a redução do comércio global decorrente da desaceleração, pois ainda é um mercado bastante fechado. O freio no crescimento chinês, porém, tem derrubado o preço de commodities como petróleo e minério de ferro – importantes produtos para a economia brasileira.

O economista Livio Ribeiro, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, lembra que o ambiente incerto e de pessimismo deve contaminar os brasileiros. Zeina Latif acrescenta que esse clima pode reduzir o investimento estrangeiro direto no país. “Não existe deslocamento perfeito. Mesmo que a gente faça a lição de casa, sempre há contágio”.

Sair da versão mobile