O seca e as queimadas estão tirando o sono de muitos produtores rurais de Mato Grosso. Em regiões onde não chove há quatro meses, incêndios destroem produções, matam animais e geram muitos prejuízos.
Na propriedade de agricultura Aparecida Fabiano Rocha, o fogo veio sem aviso e tomou conta do sítio de 19 hectares, acabando com toda a produção de frutas, hortaliças e pastagem. “Dói muito no coração e é como se fosse carne da minha carne. A vida de um animal que a gente gosta de cuidar é a mesma coisa que a vida de um ser humano. Eu deixo de comer, mas a criação vai ser tratada”,disse emocionada.
Após a devastação, o salário mínimo da aposentadoria foi a única fonte de renda que restou para a sobrevivência da agricultura e do marido. E é com esse dinheiro que o casal terá que tentar recuperar os prejuízos que já passam dos R$ 40 mil.
As poucas vacas que sobraram ficaram bem machucadas e contam com os cuidados do médico veterinário Túlio Sarro Moreira, que dá assistência de forma solidária. “Um dos animais teve 30% do corpo bastante queimado, com edema devido à desidratação. Estamos cuidando, passando hidratantes e sprays cicatrizantes, mas alguns estão bem fracos devido ao susto”, comentou.
A solidariedade também veio da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso e outros voluntários, que contribuíram com a doação de remédios e um caminhão de feno para alimentar os animais pelos próximos quatro meses.
A propriedade fica no assentamento Rio Vermelho, onde vivem mais de 320 famílias. Por lá, outros sítios também foram atingidos pelo fogo, como relata o presidente da União das Associações dos Pequenos Produtores Rurais da Região Sudeste de Mato Grosso, Nelsivon Silva Gomes. “De forma preliminar, contabilizamos em torno de R$ 40 mil por propriedade, mais de R$ 320 mil de prejuízo para os trabalhadores”, contou.
Preocupação
A situação é mais dramática porque a alta temperatura, a vegetação seca e a curta distância entre as propriedades colaboram para a propagação das chamas para outros assentamentos da região. No assentamento Primavera, seis sítios foram atingidos.
Enquanto o agricultor José Luczijnski vendia produtos na cidade, o fogo entrou e destruiu grande parte da sua propriedade de 25 hectares. Ele perdeu um pomar com 25 pés de laranja e tangerinas em plena produção, além de pés de manga, coco, pequi e cana. Ao todo, o prejuízo está na casa dos R$ 10 mil, sem contar o desfalque que terá na renda mensal esperada de R$ 700 pelas vendas da produção.
“É a nossa sobrevivência, sem falar do valor sentimental, pois plantei tudo isso há quase 20 anos e vi tudo crescer. Sem isso já não estava dando lucro e agora que vai endividar mesmo. Eu tenho duas prestações de Pronaf em torno de R$ 6 mil para pagar e sem essa renda terei mais dificuldade”, contou.
De acordo Nelsivon, que ex-chefe do Incra de Rondonópolis, a estiagem prolongada de quatro meses elevou em mais de 30% o número de incêndios na região. Ele pede socorro à bancada do agronegócio e ao governo federal.
“Da mesma forma que populares estão ajudando com doações, o governo também precisa abraçar e colocar a sua equipe técnica à disposição para fazer uma análise e poder ajudar de forma imediata esses trabalhadores. A maioria perdeu toda a renda após essa queimada”, lamentou.