Quando Gustavo Ribas Netto plantou suas sementes de soja, em setembro do ano passado, ele planejava colher 65 sacas por hectare. No solo fértil de Ponta Grossa (PR), na região dos Campos Gerais, os 1.500 hectares que ele cultiva tiveram como inimigos o clima e a ferrugem asiática, que em algumas áreas demandou sete aplicações de fungicida. Resultado: ele terá uma produção 20% menor.
O caso de Gustavo está bem refletido nas projeções da safra paranaense 2023/24. Por conta do clima, que na largada foi muito seco, e depois teve períodos muito chuvosos, o Paraná vai produzir 4 milhões de toneladas de soja a menos que a previsão inicial, segundo informações do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral).
Na última safra (2022/23), o estado foi responsável por 14,5% da produção nacional de soja. Mas, neste ano, está vendo essa fatia cair para aproximadamente 12,8%, segundo os últimos boletins da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Apesar da quebra no Paraná, juntos, os três estados do Sul devem ter um aumento na produção, já que o Rio Grande do Sul deve colher 68% a mais de soja do que em 2022/23, passando de 13 milhões de toneladas para 21 milhões, conforme estimativa da Emater-RS. O clima passa de vilão a mocinho no estado, ajudando os gaúchos a registrar uma safra recorde de soja, e levando a região Sul a uma expectativa de produção, quase concretizada, de 42,3 milhões de toneladas, 28% da safra nacional 2023/24.
Enquanto o Paraná já concluiu os trabalhos de campo com a oleaginosa, no Rio Grande do Sul a colheita está em fase inicial, próxima de 20% da área.
Com esse resultado, no ciclo 2023/24 o Rio Grande do Sul assume o segundo lugar entre os estados produtores de soja no país. Paraná cai para terceiro colocado. Mato Grosso, que registra a maior quebra no Brasil, continua na liderança, com 38,47 milhões de toneladas, com 26% da produção nacional.
Brasil vai produzir 5% menos soja
O relatório de março de 2024 da Conab aponta para um aumento de 2,5% na área cultivada no país, em relação ao levantamento anterior. Quanto à produção, registra mais uma redução, desde o relatório inicial. A produção esperada deve alcançar 146,8 milhões de toneladas, uma redução prevista de 5% sobre a safra passada.
O atraso do início das chuvas nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Matopiba, seguido por chuvas irregulares e mal distribuídas, com registros de períodos de veranicos superiores a 20 dias, além das altas temperaturas, estão refletindo negativamente no desempenho das lavouras, segundo o relatório da Conab.
A colheita no Brasil ultrapassa 80% da área plantada. Além do Rio Grande do Sul, as principais regiões que ainda têm áreas por colher são Norte e Centro-Norte (Matopiba). Nesta quinta-feira (11), a Conab atualiza os dados em um novo boletim de estimativa de safra.