Cana

Cana: em crise, setor pede uso de produto como garantia em empréstimo

Além disso, para a Federação dos Plantadores de Cana, uma redução temporária de tributos do etanol e aumento na cobrança da Cide sobre a gasolina também poderiam favorecer o setor

Cana-de-açúcar
Foto: Gustavo Porpino/ Embrapa Agrobiologia

A Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), uma das signatárias da carta enviada ao presidente Jair Bolsonaro na última semana por entidades representativas da cadeia sucroenergética para relatar impactos da crise da Covi-19 , afirma que três medidas seriam ideais para o setor por parte do Governo Federal: um programa de warrantagem (uso do produto como garantia em empréstimo) na ordem de R$ 6 bilhões para o etanol anidro e o hidratado; redução temporária de PIS e Cofins do etanol de até R$ 0,24 por litro e, ainda, aumento de R$ 0,40 na cobrança da Cide sobre o litro da gasolina.

O presidente da Feplana, Alexandre Andrade Lima, comenta que, embora o ideal fosse o atendimento das três medidas de forma conjunta e imediata, a pauta prioritária seria a warrantagem.

“Pode haver um colapso nas usinas que começaram a moagem da cana no Centro-Sul, pois cerca de 80% dessas unidades terão que armazenar o etanol produzido por conta da queda no consumo de combustíveis provocado pela pandemia de Covid-19. Algumas usinas da Região Nordeste também começaram a moer, mesmo correndo o
risco de terem que paralisar a produção por conta da falta de espaço físico para armazenagem, além de não terem como honrar seus compromissos, como o pagamento dos fornecedores independentes de cana”, assinalou Lima.

O presidente da Feplana espera que o governo autorize os financiamentos o mais rápido possível, para que as usinas tenham garantias para a estocagem de etanol.
Ainda conforme a entidade, o setor está vendendo etanol neste momento com margem relativa. “É bom salientar os impactos do governo anterior, quando a Petrobras comprava gasolina mais cara no mercado externo e vendia internamente a preços mais baixos, o que gerou grande prejuízo diante da ampla concorrência desleal ao segmento de etanol nacional. E, agora, quando o setor estava começando a ser recuperar a partir da última safra, com preços bons tanto para o açúcar para o etanol etanol, e, por isso, com grandes expectativas para esta nova safra, a qual estava sendo chamada de “Ano de ouro para o setor, veio o coronavírus”, disse Lima.

O dirigente salienta que não há mais demanda para o etanol, e, consequentemente, aquelas usinas que têm um mix flexível vão optar por produzir e vender açúcar – produto este que no mercado interno está remunerando bem, mas no externo “nem tanto”, caindo de 15,50 de dólar por libra-peso nas bolsas mundiais para 10 centavos, gerando, segundo ele, um prejuízo em torno de 30% para quem está negociando açúcar agora, mesmo com o aumento da cotação dólar em relação ao real.

Segundo Lima, várias usinas do Brasil foram proativas e anteciparam-se, fixando vendas de açúcar com um preço bastante competitivo. Sendo assim, mais de 70% da safra 2020/21 de açúcar foi negociada de forma
antecipada.

“É bom lembrar que havia uma perspectiva de um déficit no mundo de 6 a 6,5 milhões de toneladas de açúcar por conta da redução da produção do adoçante na India e na Tailândia. Já o Brasil tende a aumentar bastante a produção ante a crise do etanol com o coronavírus e a queda do preço do petróleo por outros motivos. Portanto, o déficit global de açúcar tende a deixar de existir por conta do crescimento produção brasileira. Daqui em diante, o fiel da balança dependerá de como vai se comportar o mercado de etanol no mercado brasileiro”, apontou Lima.