Agricultura

Com déficit global de cacau, mercado internacional deve se sustentar

Consultoria INTL FCStone projeta cenário de maior aperto no balanço de oferta e demanda do produto na temporada 2019/2020, com déficit de 50 mil toneladas no saldo da amêndoa

cacau
Foto: Pixabay

Os últimos meses do ano foram marcados por grandes aumentos nos preços do cacau. Ao se recuperar das fortes quedas observadas em agosto, os contratos atingiram seus maiores patamares do ano ao fim de novembro. A consultoria INTL FCStone afirma que os mais recentes saltos foram caracterizados pelas maiores intenções do mercado em receber fisicamente o cacau referente ao contrato de dezembro. 

“A introdução de um prêmio mínimo de US$ 400 por tonelada pelos dois maiores produtores globais para a safra 2020/2021, cria um cenário ainda inexplorado pelo mercado, para o qual esperamos maior volatilidade”, diz a empresa em relatório.

A FCStone ressalta que as entregas nos portos da Costa do Marfim, que apresentaram fortes números nas primeiras semanas da safra 2019/2020, já demonstram perda de fôlego. Até a terceira semana de novembro, o acumulado das entregas era 2,9% menor ante o mesmo intervalo de 2018. 

“Enxergamos que o forte início de safra foi impulsionado pela estocagem de amêndoas maior que a usual dos produtores ao fim da safra anterior para negociá-las a melhores preços no início da nova temporada”, explica.

Clima

As condições climáticas na Costa do Marfim e Gana, principais produtores mundiais, apontam boas perspectivas para a safra intermediária. O Índice de Saúde da Vegetação (VHI), importante indicador a respeito das condições de temperatura e umidade, mostra níveis bastante superiores aos de 2018 e às médias históricas. Além disso, a baixa probabilidade de ocorrência do fenômeno El Niño deve gerar boas perspectivas para a safra intermediária, colhida a partir de abril.

Pelo lado da demanda, os dados de processamento do cacau ao redor do mundo deram indicativos bastante heterogêneos no último trimestre, de modo que a Ásia deu continuidade ao intenso crescimento de moagem, a Europa com números praticamente constantes e as Américas refletindo fortes quedas. 

A consultoria vê ainda que a menor procura pela amêndoa nas Américas e Europa foram, sobretudo, reflexos das menores margens de contribuição, fator que deprime a atividade da indústria. Fora destes nichos que sempre representaram importantes regiões demandantes da amêndoa, há tendência de avanço da moagem da commodity nas regiões produtoras, a exemplo da Costa do Marfim.

Em meio a alta sazonal de procura pela manteiga em preparação para o forte consumo nos meses de inverno no hemisfério Norte e comemorações de fim de ano, as processadoras usufruem de maiores ratios da manteiga. “Todavia, para o próximo trimestre, o ritmo de transformação da amêndoa em produtos secundários tende a decrescer, puxando consigo o ratio da manteiga e estreitando as margens”, comenta a empresa.

Economia mundial

Por não ser um bem de primeira necessidade, o cacau possui elevada correlação com a renda, assim indicativos macroeconômicos são vitais às expectativas de demanda. Para a safra 2019/2020 os avanços das negociações comerciais entre Estados Unidos e China no tocante à guerra comercial se mantém como fator central ao desempenho econômico global e, portanto, à demanda pelos derivados do cacau. 

Em 2019, a Europa, principal demandante final dos derivados do cacau, sentiu os impactos dos entraves no comércio global sobre seus índices econômicos, contudo, indicadores recentes começam sinalizar pequena melhora de conjuntura, e dão sustentação à demanda por chocolates e outros derivados.

“A combinação destes elementos constrói um cenário de maior aperto no balanço de oferta e demanda de cacau para a temporada 2019/2020, de modo que estimamos um déficit de 50 mil toneladas no saldo da amêndoa para a safra”, afirma a INTL. 

Para a empresa, há um comportamento cíclico que incide sobre o fruto, diante de características botânicas e de oferta. O cacau une uma estrutura de oferta pulverizada entre pequenos produtores individuais (a qual é mais suscetível a uma alternância dos investimentos frente às variações nos preços) com o ciclo de produção do cacaueiro, cujos frutos começam a dar retornos após 3 a 5 anos do plantio. 

Deste modo, a cultura atravessou nos últimos anos uma fase de investimentos reduzidos, causando envelhecimento das árvores e queda do potencial produtivo, tais elementos fundamentam as estimativas de balanço deficitário para a safra 2019/2020 e de preços sustentados.