Agricultura

Você sabe o que é ESG e por que ele é cada vez mais importante para o agro do Brasil?

Investidores do mundo inteiro estão atentos a ativos sustentáveis e dão sinais de que vão aplicar mais recursos em negócios responsáveis

É bem capaz que você já tenha ouvido falar de ESG por aí. O conceito de governança ambiental, social e corporativa — em inglês: environmental, social and corporate governance — vem ganhando espaço nas discussões de investidores que buscam ativos sustentáveis e responsáveis.

Segundo o escritório Araúz Advogados, em junho de 2020, os ativos de fundos de ESG ultrapassaram globalmente a marca de US$ 1 trilhão, alta de 23% em relação ao primeiro trimestre do ano passado.

Na Europa, maior mercado de fundos de investimento sustentável, o dinheiro que flui para esses fundos duplicou no trimestre encerrado em junho, representando quase um terço de todos os fluxos de fundos.

Os holofotes se voltaram ao ESG no ano passado, quando maior empresa de investimentos do mundo, BlackRock, com mais de US$ 7 trilhões sobre sua gestão, anunciou que não faria mais negócios com empresas que não atendessem a esses critérios e que colocaria em prática os investimentos sustentáveis.

Mas o que ESG tem a ver com o agro?

Primeiro, é preciso entender que o conceito de governança sustentável conversa diretamente com as cobranças feitas pela sociedade civil sobre o agronegócio brasileiro. Alguns países já estudam, inclusive, exigir duo diligencie nas áreas que produzem as commodities importadas.

A sócia do Araúz Advogados e mestre em Direito Negocial, Rafaela Parra, conta que a aplicação dos critérios do ESG, descritos em um documento da ONU em 2005, deve se acelerar no pós-pandemia da Covid-19, juntamente com a retomada da economia global. “Passará de algo do cenário de mercado financeiro e de capitais para tomar fôlego nas atividades do dia a dia da cadeia agroindustrial”, comenta.

Algumas das adaptações do setor estão diretamente relacionadas às mudanças climáticas, a escassez de recursos naturais, como o setor tem trabalhado nas condições de trabalho e segurança de seus colaboradores, além de diversos outros fatores peculiares da agroindústria.

Não pode ser apenas um ônus

Porém, para Rafaela Parra, o ESG não pode ser colocado apenas como mais um desafio para o produtor rural. Ela defende que a legislação precisa apoiar investimentos nessa direção.

“Ser sustentável não é sinônimo de filantropia de países em desenvolvimento e que detêm grande parte dos ativos verdes, como é o caso do Brasil, a países desenvolvidos. A sustentabilidade não pode significar exploração comercial e econômica de países desenvolvidos e com maior poderio a países em desenvolvimento”, destaca.

Uma notícia boa é que os investidores parecem dispostos a apostar em negócios com governança sustentável. De acordo com o Araúz, quase dois terços (63%) dos investidores latino-americanos veem o investimento como uma forma de ter um impacto social ou ambiental positivo e pouco mais de dois terços (69%) estariam mais inclinados a investir em um fundo com uma pegada mais baixa de carbono. Mais da metade (57%) acredita que seus investimentos podem ter um impacto positivo sobre o mundo.

“Vemos um crescimento de aportes em projetos ambientalmente e socialmente responsáveis, seja a partir de títulos de crédito já conhecidos, como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio, agora lastreados em operações com diferencial ‘verde’, como pela ascendência de novos títulos, como é o caso dos Títulos Verdes e sua dinâmica estabelecida mundialmente. Aqui os critérios de emissão são bem delimitados através de requisitos próprios, havendo uma taxonomia estipulada para o agronegócio. Um ambiente de produção ESG facilitaria a emissão desses títulos certamente”, afirma a advogada.

Além de atrair mais investimentos, as empresas que cumprem com esses critérios são melhores vistas à perspectiva de que os clientes cada vez mais procuram por empresas que promovam a conscientização e que ofereçam produtos oriundos de um planejamento sustentável.

Segundo Araúz, outro benefício do cumprimento das dimensões ESG é o valor financeiro, já que se a empresa não cumprir com esses critérios estará exposta a eventualidade da ocorrência de diversos tipos de desastres ambientais, ou até mesmo de processos em geral contra a empresa, o que gerará um custo muito alto se isso for deixado para depois.

Movimento de adesão já começou no Brasil

Pode até ser que o conceito de ESG pareça distante do agronegócio que existe da porteira para dentro, mas não é. Traders e outros compradores têm se tornado mais exigentes nas relações com cerealistas, cooperativas e produtores que exportam.

E muitos produtores rurais já entenderam o recado e começaram a buscar meios viáveis para fazer adequações. O Araúz Advogados é um escritório com forte atuação no agronegócio e no cooperativismo, e registra esse movimento entre seus clientes.

O foco, segundo o escritório, está em analisar e implementar ajustes com base no Código Florestal e nas demais leis ambientais dentre os fornecedores. A ideia é atestar o desmatamento zero nos grãos, para evitar barreiras comerciais de países compradores.

“Isso garantirá competitividade e abertura de mercados. E não haverá prejuízo aos produtores rurais, muito pelo contrário, ao livre e espontaneamente cumprirem exigências legais, estarão um passo a frente para negociações, que, futuramente, esperamos que tenha um valor agregado na análise de risco, tal qual já acontece na tomada de crédito privado”, diz.