Agro em Campo

Referência no futebol, Brasil deve assumir protagonismo também na redução das emissões de carbono até 2050

O desafio fica em limpar a imagem do país e coibir atividades ilegais que acabam sendo associadas a produção sustentável brasileira 

A Copa do Mundo do Catar marcou um novo capítulo na história da sustentabilidade, com a proposta de um evento neutro em carbono. Na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), que aconteceu no ano passado, em Glasgow, no Reino Unido, o Brasil definiu a redução das suas emissões de carbono pela metade até 2030, e até 2050, o país se comprometeu com uma economia neutra em carbono.

A transição energética é imprescindível para a conquista das metas do Acordo de Paris, firmado em 2015 na COP21, que tem como objetivo a redução dos gases de efeito estufa.

O Brasil já conta com cerca 50% da sua matriz composta por energias renováveis, uma proporção três vezes maior do que a matriz energética global, volume expressivo para o país que conta com a maior biodiversidade do mundo, com mais de 116 mil espécies animais e mais de 46 mil espécies vegetais, ao longo de 6 biomas terrestres e três grandes ecossistemas marinho.

Sustentabilidade

A sustentabilidade é o presente e futuro da agricultura brasileira e do mundo. Para isso, é necessária a implementação de três bases fundamentais a essa prática, são estes os pilares: ambiental, social e de governança. Essas três palavras, em inglês, formam a sigla ESG, que se refere a práticas que podem ser adotadas para um futuro mais sustentável.

O pilar ambiental se refere a práticas que contribuem com o meio ambiente. Já o social se refere a ações como direitos humanos e leis trabalhistas. Por fim, o pilar da governança se refere a processos e estratégias ligadas ao combate à corrupção em empresas

Para Rogério Melo, gerente de carbono da UPL, o trabalho ambiental da agricultura no Brasil é referência global. Ele ressalta também os compromissos do atual governo, firmados na COP26, de zerar o desmatamento ilegal até 2028, dois anos antes do que havia sido acordado na COP21.

“O Brasil em específico tem ao seu lado uma agricultura que, sob o ponto de vista ambiental, é muito eficiente. Quando a gente analisa o princípio da intensificação ecológica e compara as operações agrícolas brasileiras, nós percebemos que, pela alta tecnologia adotada na maioria dos nossos cultivos de escala e pelas condições climáticas favoráveis, a agricultura brasileira é muito menos intensiva do que a agricultura de outros países. Boa parte das nossas emissões decorrem de desmatamentos e queimadas ilegais, e esse é, sem sombra de dúvida, o ponto mais sensível da causa ambiental no Brasil”, avalia. 

Na visão de Daniel Vargas, coordenador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV), a COP27 foi uma conferência tímida, com poucos avanços na pauta ambiental. Para ele, o Brasil tem um papel fundamental no fornecimento de energia limpa.

“Neste ambiente de demanda global por energia limpa, o mundo se olha e se pergunta quem pode prover novas formas de energia e alimento com baixas pegadas de emissões, e é nesse espaço que o Brasil tem uma oportunidade que me parece rara, dada as nossas condições naturais de clima, geografia e de produção. O Brasil tem uma costa rica em vento, um campo altamente capacitado para produção e uma base verde sustentável estabelecida. Tudo isso nos oferece condições para gente produzir energia de diferentes formas, com baixa pegada de carbono, e assim, nos tornarmos um grande provedor de energia limpa”, ressalta. 

Para o coordenador da FGV, o mundo “espeta” na conta da produção sustentável do agronegócio um conjunto de atividades ilegais que estão distantes da realidade produtiva.

“O desafio é separar uma coisa da outra, e essa separação passa por duas condições que me parecem fundamentais, a primeira delas é combater o desmatamento da Amazônia, ilegal, desnecessário, injusto e que apenas serve para ameaçar a imagem da nossa produção sustentável. A segunda coisa é criar portas para que essa sustentabilidade do agro seja reconhecida como um ativo ambiental, porque já é pela ciência, mas não é pelo mercado, e isso vai exigir de nós a criação de métricas e metodologias que nos permitam dar números a essa sustentabilidade, para que ela passe a ser percebida, não apenas como um ativo abstrato, mas um ativo econômico da produção”, afirma.