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Guerra e clima ameaçam oferta de alimento, dizem líderes do setor agrícola

O aumento dos preços dos alimentos está provocando inquietação, dizem líderes do setor agrícola

A guerra e o clima estão colocando em risco a oferta global de alimentos, de acordo com autoridades e executivos do setor agrícola.

O conflito na Ucrânia interrompeu as exportações do país, um dos maiores produtores agrícolas do mundo, e a seca e o mau tempo afligem importantes regiões de cultivo. “Na verdade, temos duas crises”, disse na terça-feira, 28, o CEO da Syngenta, Erik Fyrwald, durante o Fórum Global de Alimentos, organizado pelo The Wall Street Journal. “As crises de segurança alimentar e as crises climáticas.”

Fyrwald disse que climas extremos estão crescendo, com calor, seca ou inundações desafiando agricultores nos EUA, Europa, Austrália e Índia. Isso foi exacerbado, segundo ele, pela guerra na Ucrânia, que afetou os mercados mundiais de grãos e elevou os preços dos alimentos em todo o mundo.

O aumento dos preços dos alimentos está provocando inquietação, já que as interrupções no fluxo da produção ucraniana agravam o estresse existente na oferta global de grãos e outros bens. O chefe do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas alertou que uma escassez absoluta de alimentos é possível em 2023 se a Rússia continuar bloqueando as exportações de produtos agrícolas da Ucrânia.

Mesmo entre os países mais ricos do mundo, os preços mais altos de alimentos estão sendo sentidos. Os preços nos supermercados dos EUA subiram quase 12% nos 12 meses até maio, o maior aumento anual desde abril de 1979, segundo o Departamento do Trabalho. Os preços aumentaram 7,4% em restaurantes e outros locais de alimentação fora de casa, também marcando o maior nível em mais de quatro décadas.

“É muito sério”, disse Fyrwald. Os preços dos alimentos “continuarão subindo até que consigamos levar os produtos pelo Mar Negro, no sul da Ucrânia”.

As exportações de trigo da Ucrânia, que junto com as da Rússia representaram quase um terço do total global, devem ser cortadas pela metade neste ano, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). A invasão russa ajudou a elevar os preços do trigo a níveis recordes em março e, embora os futuros tenham caído 27% desde então, ainda acumulam alta de cerca de 20% em 2022.

“Não haverá oferta suficiente de certos ingredientes”, disse o diretor de tecnologia da trading Cargill, Florian Schattenmann, durante o evento. A guerra na Ucrânia prejudicou a disponibilidade de ingredientes como óleo de girassol usado em fórmula infantil, levando empresas a reformular seus produtos, acrescentou.

Na segunda-feira, o secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack, pediu que os portos ucranianos no Mar Negro sejam abertos para enviar grãos para fora do país e ajudar a aliviar a crise global de alimentos. “O comércio precisa ser retomado a partir dos portos do Mar Negro que foram danificados ou interrompidos pela invasão russa”, disse durante o evento.

O mau tempo, inclusive na América do Sul, está colocando mais pressão sobre as regiões agrícolas que se tornaram mais importantes para manter a oferta mundial de alimentos devido ao conflito na Ucrânia.

Nos EUA, chuvas e ventos em áreas do Meio-Oeste desaceleraram o plantio de muitos produtores de milho e soja no mês passado. As condições úmidas foram seguidas por uma perigosa onda de calor no início deste mês. Enquanto isso, a seca está afetando mais de 78% do oeste americano, de acordo com o Monitor de Secas dos EUA.

Fyrwald disse que a Syngenta está trabalhando com agricultores na Ucrânia, mas também continuando a fornecer sementes e produtos químicos aos agricultores russos. Algumas empresas agrícolas, incluindo Syngenta e Bayer, e tradings de grãos como a Cargill, continuaram vendendo sementes e movimentando grãos na Rússia, apesar da pressão para romper laços após a invasão da Ucrânia.

As empresas citam motivos humanitários para suas decisões de continuar operando certas partes de seus negócios na Rússia. “A Snygenta olhou para isso e decidiu que serve agricultores em todo o mundo”, disse Fyrwald. “Nós não somos políticos.”