BR-163: martírio dos caminhoneiros chega a 10 dias

Esse é o período que os profissionais dizem estar tomando banho em rio que cheira a ferrugem, sem água potável e distantes dos centros de distribuição de cestas básicas

A chuva não dá trégua, e caminhoneiros que estão na BR-163 tentando levar as  cargas  para os portos do Arco Norte têm mais um fim de semana de fúria, pontos com atoleiros intransitáveis, longas filas, algumas cargas perecíveis se perdendo e o, o que tem causado mais revolta: muitos ainda estão sem assistência.

“Do lado de cá, não está vindo recurso nenhum. Se eles estão dando algum recurso, é lá no asfalto. Lá não precisa de recurso. A gente quer aqui, nesse atoleiro, nesse lamaçal danado, onde caminhoneiro nenhum passa. Estamos sem comer, sem tomar banho, sem beber água”, afirma o caminhoneiro Eriberto Moura, indignado com a Defesa Civil, encarregada de distribuir a cesta básica e dar assistência.

“A situação nossa é essa aqui: beber água e comer uma bolachinha. Estou com dez dias hoje nessa luta. Tomando banho no rio, com a água fedendo a ferrugem. E a cesta básica que falaram por aí que estão dando para os caminhoneiros? Nós que estamos aqui no atoleiro até agora não vimos ninguém”, desabafa o também caminhoneiro Edgar Alves do Amaral.

A equipe de reportagem do Canal Rural procurou a Defesa Civil do Pará, que armou uma tenda para distribuição em um trevo no distrito  de Bela Vista do Caracol (PA). O objetivo era saber o que estava ocorrendo em relação à distribuição das cestas básicas. Fomos informados pelo capitão Bruno Freitas, responsável pela equipe, que na quinta-feira havia chegado mil cestas. No sábado, outras mil, e têm mais mil que ainda não chegaram ao ponto de entrega. Segundo ele, já foram distribuídas 1.500 cestas.

“Realmente, as equipes não estão acompanhando todo o fluxo da paralisação. Está havendo problemas nas distribuições. Teve caminhoneiros pegando mais do que devia. Por isso tivemos  que  controlar melhor  a distribuição”, afirmou o capitão.

Alguns membros da equipe nos informaram que  o rio Tapajós também encheu e que acabaram precisando de ajuda da Defesa Civil. Por esse motivo, acabou diminuindo o contingente  para atender aos caminhoneiros.

Para controlar o tráfego dos caminhões, a Polícia Federal e o Exército estão trabalhando sem cessar. Duas barreiras foram montadas nas entradas dos  trechos não pavimentados da BR-163, que são considerados os mais críticos.

“Estão ocupando dois pontos. O ponto de liberação 1 é lá no Posto do Trevão. E esse nosso segundo posto, que é o do Santa Luzia. A gente cuida da liberação. Então a Polícia Rodoviária libera o sentido da via. A gente controla esse sentido e bloqueia o outro. A prioridade é do tamanho da fila”, informou  Lucas Barroso Lopo Amaral, sargento do Exército.

O DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) acompanha o trabalho das empresas licitadas e está tentando fazer as manutenções  nas partes mais críticas da rodovia com máquinas. Mas as chuvas constantes e as assistências a veículos  em atoleiros têm atrapalhado bastante os serviços.

Mesmo assim, o órgão  tem se mostrado confiante e prevê entregar até o fim de 2017 pelo menos 70 km pavimentados. Foi o que afirmou o diretor nacional do DNIT, Valter Casemiro. Neste sábado, ele visitou o trecho prejudicado para verificar se o trânsito  estava fluindo e se há maquinário suficiente para atender a demanda.

Participaram também da visita surpresa o secretário de Infraestrutura e Logística de Mato Grosso, Marcelo Duarte, e o secretário de Infraestrutura e Logística do Pará, Kleber Meneses.