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Brasil passa a integrar iniciativa internacional Solos Vivos das Américas

A iniciativa visa promover no Brasil boas práticas de manejo da terra em ecossistemas que acumulem mais carbono nos solos

Transformar os sistemas agrícolas em ecossistemas, que acumulem mais carbono nos solos, recuperando a qualidade desse recurso natural para garantir a capacidade de produção sustentável de alimentos. Esse é um dos principais objetivos do programa Solos Vivos das Américas, iniciativa internacional para restauração da saúde do solo na América Latina e Caribe, e da qual o Brasil passa a fazer parte.

A adesão ocorreu nesta terça-feira, 23, com o lançamento do programa Solos Vivos Brasil em evento virtual transmitido pelo canal do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) no Youtube. A iniciativa visa promover no Brasil boas práticas de manejo da terra e incentivos para transformar os sistemas agrícolas em ecossistemas que acumulem mais carbono nos solos.

Na cerimônia, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, destacou que parcerias são fundamentais para acelerar os esforços de aprimoramento da agropecuária. “Tenho sempre mencionado que a agricultura brasileira é movida a ciência. E, para fortalecer a ciência, é necessário construir alianças: promover parcerias e trabalho em conjunto entre o Estado Brasileiro, a iniciativa privada, as universidades, organismos internacionais e outras instituições”.

O diretor-geral do IICA, Manuel Otero, ressaltou que a preservação dos solos repercute em outras áreas da sociedade. “Quero destacar a importância desse tópico de interesse global, da necessidade de promover a conservação dos solos em nossa região, onde aproximadamente 40% dos solos têm algum tipo de degradação, o que impacta a produção de alimentos, o crescimento econômico, a segurança alimentar, o bem-estar rural e a resiliência em mitigação das mudanças climáticas. Da mesma forma, a recuperação e conservação dos solos é essencial para manter os limites climáticos considerados seguros, o que reflete em agendas e acordos multilaterais sobre esses assuntos”.

O evento de lançamento contou com uma palestra do professor da Universidade de Ohio e Embaixador de Boa Vontade do IICA, Rattan Lal. Ganhador do Prêmio Nobel da Paz 2007 e do Prêmio Mundial da Alimentação 2020, o cientista falou sobre a necessidade de ações que promovam o sequestro de carbono pelo solo. “O objetivo é justamente ter solos vivos, com boas plantações e também ter o sequestro de carbono, a pegada de carbono, para mitigação das mudanças do clima. Então, colocar o carbono de volta no solo é extremamente importante para essa região”, disse Lal.

Atuação e expectativa

Experiências e resultados de políticas públicas Mapa foram apresentados pela ministra Tereza Cristina, que ressaltou o pioneirismo do Brasil no desenvolvimento da agropecuária de baixa emissão de carbono, com o uso de tecnologias que serão fomentadas no programa Solos Vivos Brasil.

Uma das ações é o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC). Em dez anos, os produtores rurais brasileiros adotaram os modelos produtivos descarbonizantes em mais de 52 milhões de hectares. A recuperação de pastagens degradadas, os sistemas integrados de produção e o plantio direto foram algumas das tecnologias que favoreceram o avanço da agricultura sustentável. Em outubro deste ano, o Mapa anunciou o ABC+, que prevê a implantação de tecnologias de baixa emissão de carbono em mais 72 milhões de hectares de terras agricultáveis até 2030.

“O potencial transformador da agropecuária de baixa emissão de carbono é enorme. E, sem dúvida, o Solos Vivos contribuirá para a expansão da adoção dessas tecnologias. Juntos, o ABC e o Solos Vivos serão vitrines sobre como as tecnologias melhoram a renda e a qualidade de vida dos produtores rurais envolvidos e ainda sequestram carbono no solo”, destacou Tereza Cristina.

Outra política é o Águas do Agro, Programa Nacional de Conservação de Solo e Água em Microbacias Hidrográficas, que tem o objetivo de promover a recarga de água nos aquíferos.

Há também o Pronasolos, primeira política pública para o conhecimento, o uso e a conservação do solo como estratégia nacional, que reúne informações de dezenas de instituições sobre os solos brasileiros, com mapas únicos de disponibilidade hídrica e de regiões mais suscetíveis à erosão.

“Essa plataforma precisa ser alimentada. E dois ativos essenciais que precisam estar refletidos nela são o carbono e a água. O programa Solos Vivos, junto com o Pronasolos, pode ser uma das vitrines para demonstrar que, além de produzir alimentos, fibras e bioenergia, o produtor rural brasileiro pode sequestrar carbono nas suas propriedades e ainda armazenar e produzir água”, afirmou a ministra.

Inciativa internacional

Liderada pelo IICA e pelo Centro de Manejo e Sequestro de Carbono (C-MASC) da Universidade Estatal de Ohio, o programa “Solos Vivos das Américas” é uma iniciativa internacional que atua como ponte entre a ciência, no âmbito das políticas públicas, e o trabalho de desenvolvimento na restauração da saúde do solo nas Américas.

O IICA e o C-MASC apoiam os parceiros em temas como formulação de políticas, práticas de manejo da terra e incentivos para transformar os sistemas agrícolas em ecossistemas que acumulem mais carbono nos solos, abrindo o caminho para a implementação de melhores métodos de gestão e desenvolvimento de políticas públicas e regulações com o objetivo de recuperar a saúde e a qualidade do solo.