Eleições

Abag fala sobre o que deve ser prioridade dos governantes nos próximos 4 anos

Dirigentes do setor apontam as pautas prioritárias do setor para os próximos quatro anos; Abag é a segunda da série que será exibida toda quinta-feira nos telejornais Mercado & Cia e Rural Notícias

De olho nas eleições de 2022, o Canal Rural lançou uma série especial de entrevistas com representantes de entidades do agro.

O conteúdo tem foco nas pautas prioritárias para o agronegócio, apontadas pelos dirigentes do setor, para os próximos quatro anos.

Toda semana, sempre às quintas-feiras, as entrevistas serão exibidas nos telejornais Mercado & Companhia e Rural Notícias.

A entrevista desta quinta-feira (2) é com o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Caio Carvalho.

Abag Caio Carvalho
Caio Carvalho, presidente da Abag. Foto: Divulgação/Abag

 

Demandas

Temos várias. Com o tempo, algumas dessas demandas melhoraram. Por exemplo, a questão de infraestrutura e logística, que era disparado o tema número um, com o belo trabalho do ministro Tarcísio de Freitas, desse governo, houve uma melhora substancial. Outros grandes temas são o custo Brasil e a abertura de mercados lá fora. O Brasil é um país que tem um potencial formidável de trazer segurança alimentar e até energética com baixo carbono, mas é lógico que ele depende de regras claras de mercados abertos e não de protecionismo que o mercado externo faz ou de narrativas que tentam de alguma forma diminuir a importância do Brasil nisso e do ponto de vista interno assim, o custo Brasil. A gente tem uma pressão enorme de custos no Brasil. Nós só crescemos e sobrevivemos porque a nossa capacidade de produção é muito forte. 

Reformas

Nós entendemos que se fôssemos elencar dois pontos que de fato são prioritários ou prioridade é sem dúvida primeiro dar ao Brasil a força e o protagonismo que ele tem na questão geopolítica no que diz respeito ao agro. E a outra questão são as reformas administrativa e tributária. Essas duas reformas são fundamentais. Eu nem falo da política que também é importante, mas a reforma administrativa e tributária é sem dúvida o toque de classe que vai fazer o Brasil não só em termos do agro, mas principalmente em termos de crescimento, não podemos esquecer de dizer que faz 40 anos que o Brasil cresce menos de 0,5% ao ano, isso é ridículo para um país como o Brasil. 

Fertilizantes 

Um país que tem essa exuberância, essa força verde num processo novo de bioeconomia, ele tem que ter menor dependência de fontes essenciais a bioeconomia, como por exemplo, fertilizantes. Esse programa de fertilizantes saiu, nós temos que dar vida a ele, tem que de fato acontecer para que a gente possa reduzir essa dependência. Essa guerra recente trouxe para nós uma dor de cabeça enorme e para o mundo todo. Mas o mundo todo não depende tanto de fertilizante como o Brasil depende. Portanto, para nós isso é essencial. 

Sustentabilidade

O que é o Código Florestal? É a grande lei ambiental brasileira. Muito superior, muito superior às leis ambientais dos países adiantados, desenvolvidos. O Brasil tendo essa lei aprovada e regulamentada, a gente dá um salto de qualidade que as narrativas vão caminhar para o outro lado, ou seja, porque os outros países não fazem o que o Brasil fez. Nós tivemos uma guerra Rússia e Ucrânia que de repente traz o tema da insegurança alimentar e os países europeus e Estados Unidos estão estimulando seu agricultor a plantar culturas em áreas preservadas. Então em casa de ferreiro, espeto de pau. Quer dizer, o que acontece agora, que narrativa é essa?

Agricultura familiar

Eles são essenciais, eles são fundamentais, são o lado que normalmente mais sofre, mas eles tendem a ser o que vai ser o Brasil do futuro. O Brasil vai estar muito em cima dos pequenos e médios produtores. Portanto, a política tem que ser feita olhando para frente para essa realidade porque o próprio processo de desenvolvimento famílias vão mudando, vão crescendo, as áreas vão sendo divididas e vão ficando menores. Veja o exemplo de São Paulo e de outras regiões. O processo de cooperativismo, o processo de pequenos se unem em cooperativas é o grande processo olhando para frente. Hoje as cooperativas têm bancos que estão entre os cinco maiores do Brasil. 

Conectividade 

Hoje as máquinas que são produzidas, sejam plantadoras, sejam colhedoras, são todas ligadas à questão da conectividade. Eu fico muito impressionado. Às vezes eu saio para visitar o interior do estado de São Paulo, você chega numa região como Jaú que é miolo de São Paulo e o celular não funciona. Então tem uma lição de casa enorme para ser feita neste campo. A tecnologia é fundamental porque toda a tecnologia embarcada nesses tratores, colheitadeiras todas estão ligadas a conectividade. Eu quando compro um trator estou contanto com isso porque isso é tecnologia embarcada e redução de custos e dependo de conectividade. Tem que ser feito um grande esforço neste tema para que a gente consiga realmente estar a frente porque ele está diretamente ligado à evolução tecnológica.  

Economia

Eu não tenho dúvidas que o Brasil está numa crise menor que a maioria dos países porque tem um agro forte. Esse é um ponto importante. Quando eu falo agro, não é só a agricultura. Mas tudo aquilo gira em torno do agro. O agro hoje este ano foi quase 30% do PIB brasileiro. O agro é responsável pela balança comercial brasileira. A balança comercial brasileira não está no vermelho há muitos anos pela realidade do agro. Muitos países estão passando um aperto horroroso na sua balança comercial porque não tem essa verde economia que tem o Brasil e entendo que nós estamos virando num mundo de descarbonização onde o mundo passa da bioeconomia e do verde e não mais do carbono fóssil, mas do carbono verde e o Brasil é liderança. Então temos que assumir o nosso lugar nisso. 

Segurança alimentar

O Brasil de fato é o grande agente na geopolítica do ponto de vista da insegurança alimentar e insegurança energética. Países como o Brasil, são poucos, de potencial produtivo, ou seja de expandir áreas ou de crescer verticalmente de ganhar produtividade reduzindo custos sendo competitivo de forma sustentável são poucos. Então a dependência do Brasil é muito grande.  O exemplo que a gente está vendo agora dessa inflação lá em cima desses custos de produção que pressionam o agricultor e que chegam ao consumidor com preços altíssimos quando chegam ao supermercado é um desequilibro que a gente tem que tentar corrigir de várias formas. Acho que o Brasil tem um papel fundamental nisso, portanto, que o próximo presidente da República tem dois olhares, um para isso que estou falando, preparar o Brasil para ter o seu peso de importância no mundo, e outra as reformas fundamentais para reduzir os custos e essa pressão de custos que o agricultor tem para alimentar o mundo, acho que esses são os dois pontos.