Mogno africano promete rentabilidade para produtor rural

O retorno é em longo prazo, mas oferece possibilidades de ganhos financeiros e ambientais

No mundo, a madeira tropical dura é considerada uma commodity de alto valor comercial. As madeiras nobres têm aplicação na indústria naval, em instrumentos musicais e no mercado de luxo. O plantio de florestas de espécies como o mogno africano fomentam ainda mais esse nicho de mercado que está em expansão no país. O retorno é em longo prazo, mas oferece possibilidades de ganhos financeiros e ambientais.

Anualmente, o Brasil produz quase 15 milhões de metros cúbicos de madeira nobre, extraídas de florestas naturais da Amazônia. Mas especialistas apontam que existe o risco de faltar a matéria prima em menos de duas décadas. O Serviço Florestal Brasileiro estima uma redução de 64% da oferta de madeira nobre até 2030 oriundas de florestas naturais. No mesmo período, essa demanda deve quadruplicar, atingindo o patamar de 21 milhões de metros cúbicos por ano, o que resulta na necessidade do cultivo para repor esse tipo de floresta.

Nova call to action

Segundo o Instituto Brasileiro de Florestas, atualmente, o Brasil tem 30 mil hectares plantados de mogno africano, isto é, somando plantios organizados, consorciados e pequenas iniciativas em todo país. Mas tem um déficit de cerca de 16 milhões de metros cúbicos, que se fosse para plantar tudo em mogno, representaria cerca de 50 mil hectares plantados e produziria 500 a mil hectares por ano.

A taxa de retorno desse tipo de investimento atrai produtores e investidores. O presidente do Instituto Brasileiro de Florestas, Solano Aquino, aposta que o hectare implantado pode valorizar em média 18% ao ano.

Minas Gerais é hoje o pólo brasileiro de florestas de madeiras nobres com implantação anual de 200 hectares. Em Unaí, no cerrado mineiro, há cerca de quatro anos, dez hectares de pastagens degradadas deram lugar ao mogno africano, o que já é considerado um ganho ambiental. A espécie é a principal madeira nobre cultivada no Brasil. Cada hectare tem potencial para produzir em média 420 metros cúbicos de madeira. Nos primeiros anos, o maior risco é com ataque insetos o que exige um manejo integrado de pragas. A umidade na floresta também pode gerar a ocorrência de fungos.

Para o Rodrigo Machado, engenheiro agrônomo, as principais pragas que o mogno pode atrair são a formiga e a abelha irapuá, que provoca grande bifurcação. O engenheiro também alerta quanto às doenças. “Há também doenças de fácil controle desde que se pegue no início, por exemplo a antracnose, mas já tem combate biológico para ela”, alerta.

O investimento é de longo prazo. Com seis anos de implantação as árvores atingem uma altura que varia entre 9 e 12 metros. Mas o primeiro corte é realizado aos 12 anos, quando a árvore vai ter em média 25 centímetros de diâmetro e o corte final após 20 anos, com diâmetro entre 50 e 70 centímetros. Mas a aplicação de técnicas de plantio e manejo, desenvolvidas nos últimos quatro anos, assegura melhor desempenho da atividade florestal.

Para os interessados em investir e cultivar essa madeira nobre, é preciso preparar o solo. Aquino aconselha o produtor a ficar atento quanto ao espaçamento correto, de 3 x 2, para que tenha árvores com o fuste retilíneos, livres de nós. “É o recomendado para madeira de serraria para que você possa estar atingindo esse mercado que remunera bem, mas é altamente exigente e pede uma madeira de qualidade”, diz.

Apesar de poucas linhas de crédito, o dinheiro é considerado acessível a pequenos investidores. Tiago Campos e Gilberto Derse são sócios  e fundaram uma startup brasileira que opera através de financiamento coletivo, sistema já regulamentados no mercado financeiro. O investimento mínimo é de 500 reais e ao longo do ciclo da floresta, a promessa é que o rendimento seja seis vezes maior que o valor aplicado. Segundo Derse, o mogno africano está cotado no mercado internacional em cerca de R$ 4,2 mil a R$ 4,5 mil o metro cúbico. “Quando você investe em um processo como este, você faz um investimento muito próximo , como se fosse no mercado de ações. A pessoa ao comprar um de nossos títulos, ela é sócio neste plantio”, disse Campos.

A cadeia está em fase de estruturação no país, mas já movimenta o mercado. Esses produtos foram feitos com madeira de desbaste feito em árvores com três anos, com um valor de 450 reais por metro cúbico pago ao produtor. O que normalmente viraria lenha, vai para os Estados Unidos como artigo de decoração.

Segundo Aquino, o Ivorenses é uma espécie de Mogno Africano que você consegue uma boa qualidade de desbaste, mas o Senagalenses não tem essa mesma qualidade de desbaste. “São duas espécies no Brasil. Se você trabalha com o Ivorenses é possível ter um objeto que está em fase de teste mas já foi comercializado”, diz.