Calma, a ButanVac não vai roubar os ovos do seu almoço por dois motivos

Aves e Suínos

Calma, a ButanVac não vai roubar os ovos do seu almoço por dois motivos

A notícia de que o Instituto Butantan comprará 20 milhões de ovos para produzir vacinas deixou algumas pessoas alarmadas, pensando que a proteína ficará mais cara

O Instituto Butantan comprará 20 milhões de ovos para produzir 40 milhões de doses da vacina ButanVac. Nas redes sociais do Canal Rural, a notícia foi motivo de preocupação e alvo de brincadeiras. “Agora vai subir mais o ovo”, comentou um usuário. “Já era isso de 30 ovos por R$ 10”, emendou outro.

O que talvez parte do público atingido pela notícia não saiba é que o Brasil produziu, no ano passado, cerca de 53,5 bilhões de ovos. O consumo médio no país foi de 251 unidades por pessoa – curiosidade: 20 anos atrás, a média era de 94 ovos por pessoa. Os dados são da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Só o estado de São Paulo, onde está o Butantan, produz 17 bilhões de ovos, segundo a Associação Paulista de Avicultura (APA). Dessa forma, a demanda do instituto representaria pouco mais de 0,1% da oferta. “A avicultura vem crescendo forte, entre 5% e 8%, há vários anos já. Isso aí não é nada”, diz Érico Pozzer, presidente da APA.

Em 2020, quando uma forte onda de calor atingiu o Sudeste, foram perdidos 30 milhões de ovos em um mês – e mesmo com essa perda as cotações estão no patamar atual. “Embora tenha afetado minimamente a disponibilidade local do produto, não afetou em nível nacional”, lembra a diretora do Instituto Ovos Brasil, Tabatha Lacerda.

Também nos comentários da notícia original, usuários exaltaram a importância do agronegócio brasileiro para outros setores. Nesse caso, o da Saúde. “O agro está em tudo”, escreveu a engenheira agrônoma Dandara Peres, no Instagram. Pozzer lembra que, mesmo não sendo uma demanda pouco significativa, os ovos são usados na produção da vacina da gripe e em cosméticos.

São ovos diferentes

Outro motivo pelo qual a demanda da ButanVac não afetará o mercado é que se tratam de ovos diferentes. Os vendidos ao instituto são ovos férteis produzidos exclusivamente com esse fim.

“Eles não tem outra serventia. Entendam: as galinhas poedeiras, que produzem para consumo, não têm macho junto. No caso do Butantan, são galinhas criadas em galpões, com um macho para cada 10 fêmeas, mais ou menos, de forma que sejam ovos férteis”, diz Pozzer.

Acontece que tanto a vacina da gripe quanto a ButanVac são desenvolvidas a partir do ovo embrionado. “A partir de uma certa idade do embrião, é feita a inoculação do vírus, para que ele se desenvolva no embrião. Depois, o embrião é retirado para produção da vacina”, detalha Pozzer.

Segundo a diretora do Instituto Ovos Brasil, por já produzirem ovos para outros diversos tipos de vacinas, também já tem seu mercado consolidado. “E as granjas que produzem ovos férteis para vacinas tem capacidade de atender a demanda, visto já serem empresas consolidadas e com suas unidades de negócio trabalhando fortemente para atendimento das demandas”, pontua.

A avicultura de postura com foco na produção de vacinas tem, inclusive, um status sanitário diferenciado, superior à atividade para consumo. “É um ovo, digamos, puro. Não pode ter risco nenhum de ter uma doença”, afirma.

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