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Boi 777 pode ajudar a alcançar padrão China e lucrar mais, diz APTA

A gigante asiática demanda animais de até 30 meses, o que pode ser alcançado com a tecnologia, que preconiza a produção de gado de 21 arrobas em 24 meses

boi gordo
Veja as vantagens do Boi 777. Foto: Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

As exportações de carne bovina in natural cresceram 17,2% no acumulado de 2020 até julho, quando comparado ao mesmo período do ano anterior, aponta a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O recorde só foi possível graças à China (incluindo Hong Kong), destino de 57% dos embarques do setor nesse período.

Mas para aproveitar essa demanda forte da gigante asiática, o pecuarista brasileiro precisa estar preparado para fornecer animais no “padrão China” — bovinos de até 30 meses de idade e livres de doenças e restrições veterinárias.

O conceito Boi 777, desenvolvido pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), surge como aliado do produtor, em Colina (SP), nesta missão. A tecnologia preconiza a produção de um gado de 21 arrobas em até 24 meses. Segundo a entidade, pecuaristas brasileiros levam três anos para produzir animais de 18 arrobas.

Para atingir esses resultados, são colocadas metas de produção: o animal deve alcançar sete arrobas na desmama, sete na recria e outras sete na engorda — daí deriva o nome “Boi 777”. Além da produção precoce, a tecnologia pode aumentar em até 30% os lucros dos pecuaristas, segundo a APTA.

“O conceito do Boi 777 tem revolucionado o modo de se produzir gado no Brasil, permitindo a redução da idade de abate dos animais e aumentando o peso de carcaça, algo interessante para os pecuaristas, frigoríficos e consumidores, por disponibilizar no mercado carne com melhor qualidade, com sabor, maciez e coloração mais atrativa para o consumidor. Além disso, produzir gado de corte de forma mais rápida diminui a emissão de metano para a atmosfera”, diz a entidade.

Segundo Fabiano Ribeiro Tito Rosa, diretor de compra de gado da Minerva Foods, a idade dos animais é um ponto muito importante para a exportação. China e Arábia Saudita, por exemplo, só compram gado com até 30 meses de idade. “A idade é um fator de limitação de alguns mercados internacionais. Se o animal for jovem e bem acabado, isso é ainda mais importante para a indústria, já que podemos comercializar, por exemplo, o traseiro, uma carne com mais gordura, para países europeus ou para mercado gourmet”, afirma.

Os animais mais jovens tipo exportação remuneram melhor o produtor, de acordo com Fabiano Rosa. No primeiro quadrimestre de 2020, por exemplo, a arroba do boi padrão China era vendida de R$ 5 a R$ 15 a mais do que arroba de animais mais velhos. Os altos preços desse período ocorreram devido à falta de animais mais jovens no mercado e desvalorização do gado velho. “Agora, vemos o preço um pouco mais normalizado, mas mesmo assim, o produtor vende esse gado mais caro para o frigorífico. Esse valor, no momento, está em cerca de R$ 3 por arroba”, conta.

De acordo com Flavio Dutra de Resende, pesquisador da APTA e diretor do Polo Regional de Colina da Agência, hoje, só é possível se manter na pecuária produtores que incorporem tecnologias em seus sistemas e o Boi 777 é uma das ferramentas para isso.

Boi 777: animais mais jovens e bem terminados

A produção de bovinos com qualidade e em tempo 30% menor — como o Boi 777 — requer estratégia. “É necessário que sejam utilizadas diversas ferramentas para atingir esse resultado. O trabalho envolve, principalmente, manejo de pasto e suplementação alimentar”, afirma Gustavo Rezende Siqueira, pesquisador da APTA.

A dosagem da suplementação varia: quanto mais pesado o animal, maior a dosagem dos produtos. Em uma produção normal, os pecuaristas precisam de três anos para fazer o giro — período entre o início da produção até o abate. Com a tecnologia da APTA, é possível fazer um giro e meio nesse período. Essa precocidade do sistema é importante para todos os elos da cadeia de produção. “Tempo é dinheiro. Essa redução de tempo e permanência do animal no pasto aumenta em 30% os lucros dos produtores”, afirma Resende. Apesar de os custos de produção serem maiores, os produtores conseguem produzir mais em uma mesma área e ter produtos com qualidade superior na comercialização.

A necessidade da incorporação de tecnologia é facilmente percebida em números. De acordo com Siqueira, na década de 1970, um pecuarista conseguia receita de R$ 600 por hectare. Se ele tivesse uma fazenda de mil hectares, sua renda seria de R$ 50 mil por mês. Hoje, nessa mesma área, produzindo da mesma forma, o produtor consegue receita de R$ 100 por hectare. Se ele produzir nesses mesmos mil hectares, terá uma renda de R$ 8 mil por mês.

“Adotar o conceito do Boi 777 significa mais dinheiro no bolso do produtor, melhor qualidade de carcaça para a indústria frigorífica e carne de melhor qualidade aos consumidores”, afirma Siqueira.