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Produtor gaúcho deve ter margens menores na próxima safra, apontam entidades

O valor mínimo da saca, para cobrir os custos que eram de R$ 34,9 na última safra, têm que cobrir R$ 44,5 atualmente

A consolidação dos dados coletados pelos painéis do programa Campo Futuro aponta que as margens de lucro obtidos pelos produtores gaúchos na safra 2020/2021 foram históricas, mas não devem ser mantidas para a próxima. O levantamento é feito pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em parceria com a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

O trabalho consiste na análise das informações obtidas a partir da realidade produtiva apresentada pelos produtores. Os painéis aconteceram em Bagé, Camaquã, Carazinho, Cruz Alta, Tupanciretã, e Uruguaiana para as culturas de soja, milho, trigo e arroz. O economista da Farsul, Ruy Silveira Neto, integra a equipe técnica que realiza o estudo.

“A partir dos resultados dos painéis vimos que os custos aumentaram bem mais que a inflação oficial do país. Porém, a trajetória do aumento de preços e a recuperação da produtividade frente a seca do ano passado fez com que a receita bruta fosse alta e as margens fossem bem largas para safra 2020/2021”, avalia Neto. “Atualmente, nós vemos que os custos seguem a trajetória de aumento, principalmente concentrada no ano de 2021, enquanto os preços já apresentam uma tendência de estabilidade. O que pode ocasionar, no futuro, que o custo comece a convergir para perto da receita e as margens fiquem cada vez mais estreitas até a próxima safra de 2022”, acrescenta.

No caso da soja, principal cultura no estado, os custos relativos aos insumos tiveram uma redução na comparação entre as safras 2019/2020 e 2020/2021. Mesmo assim, as sementes registraram um aumento de 38%. Conforme Neto, isso aconteceu porque os valores de sementes, especialmente as Intactas, estão relacionados com a taxa cambial. Outros itens também tiveram forte alta como Operação Mecânica (20%); Juros de Capital de Giro (14%); Custo Operacional Total, que também considera a depreciação de equipamentos, por exemplo (13%); Custo Geral, valores relativos à administração da propriedade, contabilidade, energia elétrica, alimentação de funcionários (44%); e Frete (53%).

A lavoura de soja, no total, ficou 13% mais cara na relação entre as duas safras mais recentes. E os custos seguem aumentando. Se na última, para cobrir todos os custos, o saco da soja deveria ser comercializado por, no mínimo R$ 67, atualmente esse valor saltou para R$ 85. A safra de milho recuperou a perda da produtividade na comparação com 2019/2020, mas ainda está distante do potencial.

“Mesmo não tendo uma produtividade excepcional, é a cultura que melhor responde em relação à margem bruta”, comenta Neto. A principal razão está na alta de 72% no preço do grão. Entretanto, os custos de produção mantêm o movimento de elevação. Desse modo, o valor mínimo do saco para cobrir os custos que eram de R$ 34,9 na última safra têm que cobrir R$ 44,5 atualmente.