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MT: setor de proteína animal está preocupado com oferta de milho após ataque da cigarrinha

Produtores temem que atraques da praga causem restrição de cultivo e, consequentemente, menor oferta do grão no mercado interno

A pressão e os danos causados pelas cigarrinhas nas lavouras de milho em Mato Grosso acendem um sinal de alerta no setor da proteína animal no estado. A preocupação é com os impactos que podem ser causados por uma eventual restrição de cultivo e, consequentemente, menor oferta do grão no mercado interno.

Paulo André Zen é produtor integrado de frangos no município de Nova Mutum. A cada lote entregue, aloja 16,8 mil aves. Juntas, elas consomem cerca de 220 toneladas de ração durante a engorda. Ele diz que a valorização do milho causa desequilíbrio no caixa e afirma que uma eventual redução na oferta do grão pode comprometer de vez  a renda da atividade.

“Hoje o milho é 70% da nossa ração, não temos um substituto de imediato. Também temos outros setores que necessitam do milho e estão aqui na região para comprar o grão, então a concorrência vai ser muito grande. A nossa preocupação é que no segundo semestre vai faltar essa ração. Com isso, a gente pode parar a produção, talvez vai diminuir os lotes. Eu acredito que isso vai impactar para proteína, talvez, também vai impactar na produção de carne que lá na frente para o consumidor o preço vai subir mais”, diz André Zen.

Os suinocultores da região também estão preocupados com os milharais. A cooperativa Coopermutum agrega um plantel de 5 mil matrizes e um custo anual de 37 mil toneladas de ração. O presidente da cooperativa, Valdomir Ottonelli ressalta que qualquer alteração na oferta traz consequências significativas no orçamento dos criadores.

“Essa praga é nova para nós aqui na região, ainda com um controle indefinido e a seca que foi severa e castigou muito agora. A produção está caindo, estamos em um momento em que a produção de suínos não está tão atrativa e o custo vem subindo, não só pelo milho como também pela soja. Hoje a suinocultura já está no vermelho, se vier uma restrição na oferta, a preocupação aumenta”, diz Ottonelli.

“Se a quebra do milho for realmente muito alta em função da cigarrinha, precisamos buscar alternativas na área de pesquisa, nas grandes instituições do país como a Embrapa, quanto universidades,  para se fazer um trabalho de pesquisa e ver o que pode diminuir o impacto da cigarrinha ou acabar com ela, para que não haja penalizações em toda produção em Mato Grosso, principalmente aos pequenos e médios produtores que necessitam do milho para composições das suas rações”, ressalta o diretor-executivo da Associação dos Criadores de Suínos em Mato Grosso (Acrismat).

A menor oferta de milho no campo também pode onerar a pecuária do estado. “Qualquer alteração que venha no milho pode gerar dificuldade de margens, porque hoje em dia, elas estão cada vez mais estreitas devido aos preços e à escassez de milho no mercado. Se acontecer alguma alteração brusca dessa produção, pode acarretar mudanças tanto da nutrição do animal quanto na utilização do milho em si na base da alimentação dos animais,” afirma o gerente de relações institucionais da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) Nilton Mesquita Júnior.

Para o presidente da Aprosoja-MT, Fernando Cadore, a restrição da oferta de milho por conta do atraque da cigarrinha precisa ser debatido dentro do setor produtivo.

“O que a gente precisa é que a cultura do milho se mantenha viável, senão todos perdem nesta ciranda, o produtor, a indústria e o consumidor. É a sobrevivência do milho que hoje representa tanto quanto a soja no centro de custo de cada propriedade, isso não pode ser negligenciado. Por outro lado, não se pode tomar nenhuma medida precipitada, por isso a ampla discussão envolvendo os produtores e todas as cadeias de produção é que vai levar para uma decisão que convirja para o melhor para todos”, ressalta Cadore.