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Turismo rural se adapta e ganha espaço em meio à pandemia de Covid-19

Empreendedores assinaram um pacto de boas práticas sanitárias e venderam cestas de produtos para se manter perto dos clientes

turismo rural
Entrada de estabelecimento de turismo rural. Foto: Prefeitura de Medianeira

O setor de turismo foi um dos principais afetados pela pandemia da Covid-19, que provocou o fechamento de aeroportos e hotéis no Brasil e no mundo. Mas o segmento de turismo rural não parou totalmente no país e, passado o período mais crítico da pandemia, demonstrou crescimento e muito potencial, com os brasileiros optando por viagens nacionais e, de preferência, mais perto das cidades onde vivem.

De acordo com a presidente do Instituto Brasil Rural, Andreia Roque, os empreendedores do segmento souberam se reinventar na fase mais dura das medidas de isolamento impostas pelo novo coronavírus. Ela conta que muitos deles passaram a comercializar por delivery cestas de produtos colhidos nas fazendas voltadas ao turismo rural. Foi a forma encontrada por esses produtores para se manterem próximos dos clientes e obterem renda.

Quando as curvas de pessoas afetadas pela Covid-19 recuou e as restrições foram abrandadas, estabelecimentos reabriram com capacidade menor, para evitar aglomerações. Nesse momento, segundo a presidente do instituto, as casas de campo individuais se tornaram mais interessantes do que os grandes hotéis-fazenda.

“Pousadas rurais que tinham uma divisão em pequenas casas conseguiram segurar a onda. Muitas estavam lotadas no Natal, enquanto nem todos os hotéis-fazenda estavam”, afirma Andreia Roque.

Casa de Campo
Memorial Italiano. Foto: Marcio Fausto/Prefeitura de Colombo

Turismo rural se beneficiou de mudança de comportamento

Segundo a presidente do Conselho de Turismo da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Mariana Aldrigui, quem viajou durante a pandemia se preocupou bastante com a segurança sanitária.

Uma pesquisa divulgada pelo site de reserva de acomodações Booking.com, em outubro, revelou que 71% dos entrevistados esperam que as atrações turísticas se adaptem para garantir o distanciamento físico. Da mesma forma, 81% dos brasileiros só vão reservar um local se tiverem clareza sobre as medidas de saúde e higiene que foram adotadas.

Mas o que mais beneficiou o turismo rural brasileiro foi a mudança na distância das viagens, de acordo com a turismóloga Laura Santi. O estudo do Booking também indica isso: em outubro, 55% dos brasileiros pretendiam conhecer novos lugares na região em que moram e 59% queriam curtir a beleza natural da sua própria cidade.

“Tudo isso também levará a um renascimento das viagens de carro, com as pessoas voltando a visitar destinos locais com uma paixão renovada para estimular os negócios e as comunidades locais, que precisam se restabelecer”, afirma o site.

turismo rural
Foto: Conselho Nacional dos Municípios

Turismo rural se adaptou para receber clientes

De olho nas novas exigências, empresários se uniram e assinaram o Pacto Turismo Rural Consciente. De acordo com Laura Santi, os locais que aderiram seguem um protocolo específico para o segmento, visando proporcionar segurança, sem comprometer a experiência.

Entre outros pontos, o documento determina que os espaços externos devem ser delimitados e sinalizados. “Caberá aos empreendimentos realizarem a marcação de áreas de fluxo na área de lazer rural e natural, garantindo o distanciamento social necessário à saúde de todos, inclusive, com barreiras físicas implantadas em áreas de maior circulação”, diz a publicação.

Os empreendimentos de turismo rural que aderirem ao pacote podem ser conferidos neste link.

O apiário de Ademir Vanini, em Itupeva (SP), também precisou se adaptar para sobreviver. Após 21 anos em funcionamento, o estabelecimento precisou ser fechado no começo da pandemia. Aos poucos e com protocolos de segurança contra o novo coronavírus, a clientela voltou.

Vanini também confirma que a proximidade com a capital do estado favoreceu o negócio. “Nós estamos muito próximos de São Paulo, são rodovias boas. O pessoal vem aqui e vai ficar ao ar livre em vez de ficar preso em casa. Eles vinham para cá e aproveitavam para fazer compras dos nossos produtos e ficavam ao ar livre, sem perigo de contaminação. Todos, claro, de máscara, certinho”, conta.

Dá para falar em crescimento?

Laura Santi afirma que é difícil obter números específicos sobre o turismo rural no Brasil. A atividade é relativamente recente no país, tendo começado a se desenvolver a partir da década de 1980. Segundo ela, o governo ainda precisa investir no setor.

Como o turismo rural é, muitas vezes, acessado de carro, também fica mais difícil obter dados concretos sobre o segmento. “Os pedágios não identificam origem e destino, nem o objetivo das viagens”, lembra .

Segunda onda e o pós-Covid

O Brasil não escapou da segunda onda da Covid-19. Segundo Laura Santi, o momento de maior abertura dos empreendimentos durou de setembro a meados de novembro. Agora, com o aumento de casos e o endurecimento do isolamento social, o setor volta a enfrentar dificuldades.

“Falando especificamente de São Paulo, quando o governo começou a restringir ainda mais a circulação de pessoas, acabou atrapalhando o turismo rural”, comenta Santi.

Apesar dessa perspectiva, Mariana Aldrigui afirma que o turismo rural vai manter o público que não tinha antes da pandemia. Os turistas também deve começar a se “espalhar” ao longo do calendário, sem ficarem dependentes de feriados prolongados.

O que pode atrapalhar realmente o segmento, segundo a representante da FecomercioSP, é a piora na economia e no desemprego, que reduziria o poder de compra do brasileiro e inibiria os gastos com viagens.

Turismo rural puxa outros segmentos

Segundo Mariana Aldrigui, muitos empreendedores de turismo rural estão investindo na internet, principalmente para atender viajantes que estão trabalhando. “Eles contrataram antenas ou aumentaram a conexão. De alguma forma, por meio do turismo, melhora-se a infraestrutura desses locais”, diz.

Especializada em serviço de internet banda larga via satélite, com forte atuação em áreas rurais, a Hughes confirma a expansão. Segundo a empresa, conexão de qualidade foi fator essencial para alavancar negócios, como o Pé do Morro, em Cabreúva (SP), referência na produção sustentável de queijos, vinhos, azeites, pão, manteiga e outros produtos artesanais. “Érico Kolya [fundador do empreendimento] descobriu novas possibilidades para divulgar o Pé do Morro, sobretudo no período mais crítico da pandemia”, informa.

Aldrigui lembra que desde 2018 parte da população vem abrindo mão do carro próprio, optando por alugar veículos nas férias. Com isso, aumentou o faturamento das empresas de locação. “Há muitos aluguéis para pegar na capital com destino ao interior”, conta.

*Colaborou Flavia Macedo