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OPINIÃO

Biodiesel e etanol: o hedge natural da soja e do milho

Mandatos de mistura e investimentos privados criam demanda cativa por óleo de soja e etanol de milho, funcionando como amortecedor contra dólar fraco e queda nas cotações internacionais

Aprobio, biocombustíveis, biodiesel
Foto: Governo Federal

Tradicionalmente, soja e milho no Brasil seguiam quase à risca os movimentos das bolsas internacionais e do câmbio. Um dólar fraco ou um ciclo de preços deprimidos em Chicago se traduziam em pressão imediata sobre os preços internos. Esse quadro começa a mudar com o avanço dos biocombustíveis: o biodiesel, puxado pelo óleo de soja, e o etanol de milho, que se consolidou como peça central no Centro-Oeste.

Desde 1º de agosto de 2025, o país opera com B15 no diesel e E30 na gasolina. Na prática, trata-se de um volume adicional de consumo que não depende da exportação nem da taxa de câmbio, um piso estrutural de demanda para os grãos.

O etanol de milho já responde por cerca de 23% do etanol nacional, com produção de 8,2 bilhões de litros em 2024/25 e projeção de 10 bilhões em 2025/26. Isso significa a transformação de mais de 17 milhões de toneladas de milho em combustível. E o movimento não para: os investimentos privados, FS, Inpasa, Amaggi, Cargill, ampliam capacidade, enquanto a BP comprou a fatia da Bunge em bioenergia, reforçando o apetite internacional pelo setor.

Além do combustível, o coproduto DDG (farelo proteico) ganhou ainda mais valor com a abertura da exportação para a China, agregando receita às usinas e reforçando a resiliência econômica do modelo.

No caso da soja, o óleo virou protagonista. A Abiove projeta que o biodiesel consumirá 6,87 milhões de toneladas de óleo de soja em 2025, alta de 10% em relação ao ano anterior. Esse movimento já pressiona o mercado doméstico e reduz a dependência das exportações.

A experiência dos Estados Unidos é ilustrativa: o avanço do diesel renovável fez com que mais da metade do óleo de soja americano fosse absorvido por biocombustíveis, deslocando exportações e sustentando preços internos mesmo em ciclos de safra cheia. O Brasil começa a replicar esse padrão.

Com o cenário internacional projetando dólar desvalorizado e commodities em baixa, a tendência seria de pressão sobre os preços recebidos pelo produtor. Mas os mandatos internos (B15 e E30) e a capacidade instalada em biocombustíveis funcionam como hedge natural:

  • Demanda inelástica garante compradores locais.
  • Redução do basis negativo nos estados produtores.
  • Estabilidade maior na receita em relação à dependência exclusiva da exportação.
  • Em outras palavras: mesmo que Chicago caia e o câmbio perca força, há demanda doméstica assegurada, com prêmios regionais mais firmes.

O amortecedor não é perfeito. Em fevereiro de 2025, por exemplo, o governo segurou a mistura em B14 para conter pressões inflacionárias — prova de que a política pode oscilar. Além disso, o aumento do esmagamento de soja para atender o biodiesel tende a baratear o farelo, afetando margens da proteína animal. E, claro, custos logísticos e de energia ainda pesam sobre a competitividade de algumas regiões.

Os investimentos privados em etanol de milho e biodiesel, somados ao aumento dos mandatos de mistura, estão mudando a dinâmica de precificação da soja e do milho no Brasil. A bioenergia passa a funcionar como um seguro de mercado: cria demanda cativa, gera novos produtos de valor e reduz a dependência das flutuações internacionais.

Para o produtor, isso significa que o próximo ciclo pode ser menos doloroso mesmo em um cenário de dólar fraco e preços internacionais em queda. O agro brasileiro passa a ter no combustível verde um aliado estratégico, capaz de segurar parte da volatilidade global.

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