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OPINIÃO

Planos de Trump para soja podem reduzir exportações do Brasil para China

Proposta dos EUA ameaça reduzir drasticamente a fatia brasileira no maior mercado comprador do mundo e expõe disputa geopolítica pela soja

Donald Trump
Foto: Tia Dufour)/ The White House

A recente declaração de Donald Trump, afirmando que os Estados Unidos vão vender quatro vezes mais soja para a China, acendeu o alerta no agronegócio mundial, especialmente no Brasil.

Hoje, cerca de 70% da soja importada pela China vem do Brasil, enquanto apenas 20% têm origem americana. Se o plano de Trump se concretizar, os EUA passariam a fornecer 80% da demanda chinesa, restando um modesto 10% para o Brasil.

Na prática, isso significaria um golpe direto na maior vantagem competitiva brasileira no comércio agrícola global.

Apesar da fala de Trump, o cenário atual indica que a China não tem interesse em voltar a depender fortemente dos EUA para o abastecimento de soja.

Essa decisão estratégica é fruto de um aprendizado caro: durante a guerra tarifária iniciada em 2018, Pequim investiu pesadamente na diversificação de fornecedores, movimento que abriu espaço para o Brasil conquistar a liderança no fornecimento.

Hoje, existe um entendimento tácito entre Washington e Pequim: reduzir dependências mútuas para evitar vulnerabilidades em futuras disputas comerciais. Para a China, depender menos dos EUA é tão estratégico quanto para os americanos depender menos da economia chinesa.

A fala de Trump, no entanto, pode ter outro alvo: enfraquecer o Brasil e afastá-lo gradualmente da China.

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Ao tentar recuperar fatias significativas do mercado chinês, os EUA poderiam reduzir a influência brasileira no principal destino de suas exportações agrícolas, afetando diretamente a balança comercial, a renda do campo e a capacidade de investimento do produtor.

Vale lembrar que, só em 2024, a soja brasileira exportada para a China movimentou bilhões de dólares e ajudou a sustentar superávits comerciais expressivos, mesmo em meio à volatilidade cambial e aos desafios logísticos internos.

Especialistas, como Larissa Wachholz, reforçam que a China não pretende voltar à antiga dependência americana.

Além de manter fornecedores diversificados, Brasil, Argentina, Paraguai e até emergentes africanos, Pequim vem investindo em tecnologias para reduzir o consumo de farelo de soja em rações. Entre as alternativas estudadas estão proteínas de insetos, milho de alto teor proteico e avanços na biotecnologia alimentar.

Ou seja, a demanda total por soja pode até crescer no curto prazo, mas o espaço para um aumento maciço das compras americanas é limitado.

  • A promessa de Trump pode ser encarada sob duas lentes:
  • Pressão política para obter concessões comerciais rápidas da China.
  • Estratégia geopolítica para enfraquecer o Brasil, reduzindo sua proximidade com Pequim e sua relevância no tabuleiro global.

Seja qual for o caso, o produtor brasileiro precisa compreender que a disputa pela soja não é apenas comercial, é também geopolítica. O que está em jogo é a influência e a capacidade do Brasil de manter-se como fornecedor estratégico para a segunda maior economia do mundo.

Conclusão

Mesmo que a meta de Trump pareça improvável de se concretizar, o simples anúncio já provoca impacto nos preços e nas expectativas do mercado.

O Brasil, que conquistou a liderança global da soja graças à sua competitividade, não pode se acomodar. É hora de investir em diplomacia comercial, diversificação de mercados e valorização da marca “soja brasileira” no cenário internacional. No xadrez da geopolítica agrícola, quem não se mexe, vira peça capturada.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural





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