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OPINIÃO

Programa de compra de arroz do governo não atende as necessidades do produtor

Preços não cobrem custos e o endividamento pode se agravar entre os rizicultores

grãos de arroz
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) anunciou a destinação de R$ 300 milhões para operações de Contratos de Opção de Venda (COV) de arroz, mecanismo que garante ao produtor o direito de vender ao governo a um preço previamente definido.

Segundo o órgão, o programa pretende contratar cerca de 200 mil toneladas de arroz. Essa é a terceira rodada de COV em menos de um ano:

  • Na primeira, foram negociadas 91,7 mil toneladas;
  • Na segunda, aproximadamente 110 mil toneladas, com preço médio em torno de R$ 74 por saca de 50 kg;
  • Agora, a meta é dobrar o volume, alcançando as 200 mil toneladas.

O contraponto dos produtores

Para os rizicultores, o valor não cobre o custo real de produção. Dados da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) apontam que o custo médio do arroz gira entre R$ 85 e R$ 92 por saca, dependendo da região. Ou seja, o preço praticado nos leilões representa uma perda entre R$ 11 e R$ 18 por saca para o produtor.

Além disso:

O setor ainda sofre os impactos das enchentes de 2024, que elevaram o passivo dos agricultores gaúchos, responsáveis por cerca de 70% da produção nacional.

Muitos estão descapitalizados, com dívidas que, em alguns casos, cresceram mais de 30% em um ano.

O temor é que, ao formar estoques, o governo repita o passado: quando os preços reagirem, poderá liberar produto armazenado, derrubando novamente o mercado.

O sentimento é de desânimo generalizado. “Vai ser a maior crise do agro da história”, resumiu um representante da União Central de Rizicultores (UCR).

Do ponto de vista governamental, a estratégia é conter a pressão sobre o preço do arroz, item central da cesta básica. O risco, porém, é transferir a conta para o campo.

Historicamente, a formação de estoques reguladores garantiu estabilidade ao consumidor, mas gerou frustrações no produtor. Hoje, com custos médios acima de R$ 90 por saca e preços de mercado em torno de R$ 70 a R$ 75, a margem negativa só tende a aumentar.

A dificuldade não se restringe ao arroz. A soja, carro-chefe do agro, também vive pressão:

O preço médio em agosto de 2025 recuou para cerca de R$ 120 por saca, contra custos estimados entre R$ 115 e R$ 125;

Muitos produtores que arrendam terras, pagando valores contratados na fase de preços recordes, agora operam no limite do prejuízo.

Esse quadro aprofunda o endividamento. O crédito rural para a safra 2024/25 já registrava aumento da inadimplência acima de 20% em algumas linhas, segundo o Banco Central.

O impasse é claro:

  • Para o governo, os R$ 300 milhões em COVs representam um seguro contra a alta do arroz no consumidor.
  • Para o campo, o programa não cobre custos, amplia o risco de endividamento e ameaça a viabilidade da produção.

Se nada mudar, o Brasil pode atravessar uma das maiores crises do agro moderno, não apenas pela pressão de preços, mas pela falta de instrumentos estruturais: seguro rural robusto, crédito de capital de giro, renegociação de dívidas e incentivo à agregação de valor.

Enquanto a Conab forma estoques, os produtores se perguntam: será este mais um capítulo de repetição dos erros do passado?

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural





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