Regulação do uso de recursos genéticos tem impacto na agricultura do Brasil

Direto ao Ponto

Regulação do uso de recursos genéticos tem impacto na agricultura do Brasil

Programa Direito ao Ponto discute o Protocolo de Nagoya e o Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura e sua repercussão na produção agrícola

Os impactos de tratados internacionais para a agricultura do Brasil foram tema do programa Direto ao Ponto deste sábado, 28. O foco do debate foram o Protocolo de Nagoya e o Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e Agricultura.

Os acordos dizem respeito ao uso de recursos genéticos e à repartição dos seus benefícios entre os países. São recursos que têm aplicação direta em áreas como saúde e agricultura. Para falar sobre o assunto o programa trouxe Rodrigo Lima, sócio-diretor da Agroicone, e Fabrício Santana Santos, diretor do Departamento Patrimônio Genético do Ministério do Meio Ambiente.

O representante da Agroicone afirma que Protocolo de Nagoya é um tratado da Conferência das Partes sobre Diversidade Biológica (COP). “O objetivo do protocolo é fomentar o acesso aos recursos genéticos e repartições de benefícios oriundos de produtos desenvolvidos com bases nos recursos”, disse.

Segundo Rodrigo Lima, o Brasil é um país muito diverso e com riquíssima biodiversidade, por isso, é um provedor de recursos genéticos para o mundo. O Brasil detém 22% da biodiversidade do planeta, o maior percentual entre os países.

Impactos na agricultura

O acordo foi assinado por 64 países durante a COP-10, no Japão, e o objetivo é garantir maior segurança jurídica e transparência, evitando a biopirataria, criando incentivos para a conservação e uso sustentável de recursos genéticos oriundos de plantas, animais e microrganismos. Isso evita que uma empresa estrangeira registre como seu recurso qualquer espécie proveniente do Brasil, por exemplo, como aconteceu com o açaí, que chegou a ser patenteado por uma empresa japonesa. O acordo já foi ratificado por 51 países e está em vigor. O Brasil, porém, não é um deles.

O protocolo prevê o pagamento de royalties pelo uso de espécies exóticas, o que interfere diretamente na agricultura brasileira. Rodrigo Lima destacou que a maioria dos recursos genéticos usados pelo Brasil (mais de 80%) vem de outros países, e citou o caso da soja. “Se na China acessarmos novas variedades de soja para fazer pesquisas, ela poderá vir a cobrar por isso”. Segundo ele, a grande discussão do protocolo é criar um regime comum, que seja harmonizado entre os países, o que é estratégico para o Brasil.

Em decorrência desse impacto para a agricultura é que vem a importância do Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e Agricultura (Tirfaa). Tudo o que for determinado por esse acordo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) terá preponderância sobre Nagoya no que diz respeito a agricultura, explicaram os convidados.

O Tirfaa possui um anexo com uma tem lista as exceções de recursos genéticos que não fazem parte no pagamento de royalties por sua utilização. Vale lembrar que a lista foi feita levando em consideração a questão da segurança alimentar e os enormes impactos causados por essa compensação financeira, que pode causar prejuízos para a produção e geração de emprego e renda.

O tratado da FAO abrange apenas 64 culturas. De acordo com o diretor da Agroicone e com o diretor do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil quer ampliar essa lista, tema que será discutido na próxima reunião do comitê do tratado, a ser realizada em novembro, em Roma.

“Expandir o anexo do Tirfaa significa ampliar todos os recursos vegetais para a alimentação e agricultura. O tratado regularia toda a discussão que trata de recursos vegetais, além de ser estratégico para o Brasil”, acrescentou Rodrigo Lima.

O representante do Ministério do Meio Ambiente afirmou que o enfoque do Tirfaa é fazer com que os países compartilhem os recursos. É fomentar a conservação desses recursos para assegurar a segurança alimentar. “Por isso que o Brasil precisa entrar e ratificar Nagoya até o meio do ano que vem, trazer tudo o que é vegetal para o Tirfaa. É bom para o Brasil e traz benefícios para toda a sociedade.

O diretor da Agroicone também acredita que o impacto para a agricultura brasileira será muito positivo, caso o protocolo seja ratificado, além de trazer mais segurança jurídica. “O Brasil já assinou o protocolo, mas não ratificou, precisa passar pelo Congresso”, afirmou.

Os convidados ressaltaram ainda a reunião realizada este mês com representantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) para discutir o assunto. Durante o encontro, foi sugerido um alinhamento de tomada de decisão para primeiro captar uma estratégia, proposta pelos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente e a Embrapa, para o país adotar uma postura durante as próximas reuniões internacionais.

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