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Brasil pode sofrer novos boicotes internacionais em 2020, alerta analista

Segundo Silvio Cascione, também merecem atenção a relação com a Argentina, os reflexos das eleições americanas e o ritmo de crescimento da economia local

Os ventos contrários à agropecuária brasileira aumentaram em 2019, afirma o analista sênior da Eurasia Group, Silvio Cascione. Em entrevista ao Mercado & Companhia desta quarta-feira, 1º, o especialista elencou três pontos de atenção para 2020: a relação entre Brasil e Argentina, as eleições nos Estados Unidos, a possibilidade de boicote aos produtores nacionais por outros países e um desaquecimento da economia local.

1) O que será do Mercosul?

A vitória de Alberto Fernández, candidato peronista, nas eleições para Presidência da Argentina preocupa. “É uma ideologia contrária a do governo brasileiro e desestabilizou o Mercosul. Os dois países estão conversando para decidir o futuro. O Brasil quer abrir o bloco, mas a Argentina tem uma crise para lidar e pode reduzir suas exportações”, diz Cascione

2) Incertezas na maior economia do mundo

Segundo o analista, produtores e empresários precisam ficar atentos à volatilidade no mercado internacional por causa das eleições presidenciais nos Estados Unidos. “Pode ser uma disputa polarizada entre Trump e um candidato mais à esquerda. Mesmo sem uma problema grande [de vitória democrata], pode assustar o mercado e fazer os ativos oscilarem”, afirma.

3) Meio ambiente

Cascione afirma que as questões climática e ambiental estão se tornando, cada vez mais, temas sensíveis na Europa e Estados Unidos. “Em 2019, o Brasil foi desenhado como vilão, porque o mundo estava procurando alguém para culpar”, diz.

De acordo com o analista, a retórica “mais radical” do governo de Jair Bolsonaro e o aumento dos índices de desmatamento deram abertura para as críticas. “O governo tem pouca credibilidade com os outros países e uma comunicação ruim. Uma hora fala que está combatendo o desmatamento, depois desmerece ONGs e outros países. O risco, nesse contexto, é de boicotes”, afirma.

4) Economia brasileira

Mesmo sem montar uma base parlamentar no Congresso, o governo conseguiu avançar com muitas reformas que o mercado estava há muito tempo, sendo a da Previdência a principal delas, diz Cascione.

A mudança na política econômica, segundo ele, deu fôlego para a recuperação econômica, que estava demorando a pegar. O analista diz que a tendência é que as condições que colaboraram para isso continuem em 2020, mas que se a economia perder força, as coisas podem complicar. “Se demorar demais a pegar, o alinhamento do Congresso com o governo e a fé do parlamento nessa agenda de reformas pode diminuir”, salienta.