Mercado e Cia

A inflação voltou com tudo? Entenda a situação e como o agro é afetado

Economistas mostram números dos últimos 12 meses e explicam por que a situação não está fácil nem para consumidores, nem para produtores

Quem vai ao supermercado já percebeu que alguns alimentos tiveram alta significativa nos últimos 12 meses. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os mais valorizados estão o óleo de soja, com 82,34%; o arroz, com 56,67%; a carne bovina, com 35,03$; a carne de porco, com 30,71%; aves e ovos, com 12,08%.

Essa alta despertou a inflação que andava adormecida. Segundo o IBGE, o IPCA subiu 6,76% nos últimos 12 meses. Só em 2021, já subiu 2,37% – lembrando que a meta do governo federal para este ano é entre 2,25% e 5,25%.

O economista Roberto Troster afirma que o primeiro fator altista são os preços das commodities, impulsionadas pela retomada da atividade econômica em países como Estados Unidos e China. Em segundo lugar, a taxa de juros mais baixa. O dólar também colabora, encarecendo os produtos importados.

Para piorar, o especialista afirma que o Banco Central demorou para reagir ao aumento de preços. “Ele esperou demais para subir a taxa de juros. “Nós estamos tendo uma taxa de juros real negativa, algo não visto há muito tempo”, diz.

O economista Felippe Serigati, da FGV, diz que, em geral, quando as commodities operam em patamares mais elevados, países exportadores têm um câmbio menor. O dólar fica mais barato e isso ajuda a compensar, ainda que parcialmente, a inflação doméstica.

“Porém, desta vez, tem sido diferente, principalmente no caso brasileiro. A razão disso é a percepção de risco em relação à economia brasileira, devido a todas as turbulências provocadas pela pandemia. Infelizmente, essa percepção de risco aumentou”, afirma Serigati.

A valorização das commodities no mercado internacional, como milho e soja, pressiona toda a cadeia nacional de proteína animal, como um efeito dominó. Nesse cenário, a carne bovina fica mais cara, o que leva as demais proteínas a subirem também.

Mas, neste caso, rentabilidade não é sinônimo de lucratividade. Quem depende do mercado interno não consegue passar adiante todo esse aumento do custo de produção, sendo obrigado a trabalhar com margens reduzidas ou até no prejuízo.

Segundo dados da FGV, enquanto o milho subiu 34% de janeiro a abril de 2021, o preço do frango aumentou apenas 16%. A carne suína teve uma contração de 6% e o preço do leite pago ao produtor também teve uma retração de 6,7%. “Notadamente, a proteína animal aumentou mais do que o seu preço recebido [pelo produtor]”.

No custo de produção também entraram os combustíveis, biocombustíveis e energia elétrica – insumos que também impactam a inflação. “O combustível é um insumo básico tanto na produção como tratores e máquinas e na geração de energia interna nas propriedades agrícolas e transporte da safra. Quanto mais caro o combustível, menor a margem do produtor”, reforça Troster.

Nos últimos 12 meses, o etanol subiu 37,61%; a gasolina, 35,57%; o óleo diesel, 24,55%. e a energia elétrica, 5,32%. Nesses casos, o principal culpado foi o clima

“A mesma seca que vem prejudicando o milho, que está reduzindo a produtividade dos canaviais, também reduziu o volume de água dos nossos reservatórios, o que faz com que o preço de produção de energia elétrica também fique maior. Assim como os consumidores finais têm percebido isso na sua conta de luz, isso vale para todo mundo que depende de energia elétrica ao longo do processo produtivo”, diz Serigati, alertando que não há previsão de queda de custos neste ano.