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De olho no clima, produtores antecipam plantio de arroz no Rio Grande do Sul

Especialistas recomendam cuidado redobrado para semeadura fora do período ideal, que começa em 20 de setembro

No Rio Grande do Sul, os produtores estão antecipando o plantio da nova safra de arroz. Os trabalhos estão acelerados na região da fronteira oeste e também em áreas de Santo Antônio da Patrulha e Alegre.

Na região da Campanha, as máquinas já semeiam as primeiras lavouras, mas o produtor Giovane Sari, do município de São Gabriel, se antecipou e concluiu o plantio dos 200 hectares. “Eu antecipei por causa dessa boa ‘enxuta’ que deu, agora, no mês de agosto. Essa chuvinha que está marcando para o fim de semana, já começa a germinar”, disse.

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Já o produtor Sérgio Giuliani Filho conta que vai plantar a mesma área do ano passado, fazendo rotação de cultura com a soja. Ele recomenda que os produtores não aumentem a área de plantio nesta temporada.”A gente sabe que o preço bateu recordes históricos, isso se deve ao ajuste da oferta e demanda. Eu deixo um recado para os produtores aqui, da conscientização que todos devem ter em não aumentar a área. Plantar em áreas onde realmente o produtor vai ter renda, que é o principal hoje. Os custos de produção subiram muito e  estão ao redor de R$ 8 mil a R$ 10 mil”, disse.

As equipes dos núcleos de assistência técnica e extensão rural do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) ainda estão fazendo o levantamento nas áreas para divulgar o primeiro relatório de intenção de plantio para a safra 2020/2021. O técnico do Irga, Rogério Cantarelli, tem orientando os produtores, que estão plantando antes do período recomendado, que é a partir de 20 de setembro, que redobrem os cuidados agronômicos.

“Estamos acompanhando o preparo das áreas da safra 2020/2021 e observamos uma semeadura precoce. Temos produtores que já concluíram o plantio e nosso trabalho é orientar os produtores quanto ao risco dessa semeadura, em agosto. Sobre as perdas de produtividade,  podem chegar a 60 quilos por hectare, por dia. Para os que estão plantando, passamos algumas recomendações como o tratamento de sementes, densidade e profundidade de semeadura, manejo de invasoras para que se consiga minimizar as perdas por uma semeadura muito antecipada. As previsões de chuvas para o mês de setembro e outubro podem estar influenciando essa tomada de decisão dos produtores”, avalia o técnico.

A meteorologista e consultora do Irga Jossana Cera, explica que,  com a aproximação da primavera, as chuvas no estado devem acontecer de forma mais frequente e volumosa, ajudando a recuperar os reservatórios que não estão com a capacidade máxima para a safra que se inicia.

“Os reservatórios não estão cheios e, com a expectativa de uma possível La Niña, isso acaba gerando preocupação. Agora, para setembro e outubro, são dois meses que nós temos índices pluviométricos mais elevados aqui, no estado, então estamos com essa expectativa de que as chuvas fiquem entre o normal e acima do normal para repor a capacidade hídrica dos reservatórios. No entanto, a partir de novembro os modelos indicam já uma redução nas chuvas. O que a gente observa é que parece estar se desenhando alguma coisa muito parecida com o que ocorreu no ano passado, quando  tivemos, inclusive, problema de emergência na cultura do arroz”, disse.

Ivo Mello, diretor técnico do Irga, acredita que os arrozeiros gaúchos vão manter a mesma área semeada na safra passada, em torno de 950 mil hectares. “Existe uma perspectiva bastante interessante, pois nós temos preços muito bons nesta comercialização, safra 2019/2020. O pessoal tem essa ideia que poderia até aumentar um pouco a área, mas a gente não acredita em incremento de área muito grande, principalmente, porque o produtor tem essa consciência de que tem que plantar no lugar certo, no momento certo e com recursos que são convenientes para aquela área que ele tem disponível no seu empreendimento.”

O presidente da Federarroz, Alexandre Velho, diz que para o produtor se manter mais competitivo, ele precisa investir na diversificação de culturas e ampliar e qualificar a gestão dos negócios. “A expectativa que nós temos com relação à área para essa próxima safra é de uma estabilidade ou até de um ligeiro aumento da ordem de 5%. A Federarroz continua orientando os produtores que realmente plantem em áreas muito produtivas, que tenham muita gestão dos seus negócios, que atualizem os custos de produção . Este mesmo câmbio que está trazendo competitividade ao setor e proporcionando bons negócios do arroz gaúcho, ele trará certamente consequências com relação ao custo dos fertilizantes e também dos agroquímicos.  Então, é muito importante que o produtor tenha consciência de manter um sistema de produção, manter junto com o arroz a rotação de cultura com a soja e também com a pecuária”, disse Velho.