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Entenda por que o Brasil é tão dependente do transporte rodoviário

Para entender a complexidade do assunto, especialistas explicam como chegamos ao cenário atual e como o problema pode ser resolvido

Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural

“Governar é abrir estradas.” A frase já foi lema de um governo no Brasil no início do século passado e, desde então, as rodovias imperam como o modal mais utilizado no país. Atualmente, são mais de 1,7 milhão de quilômetros de estradas, enquanto as ferrovias não chegam a 30 mil quilômetros.

A greve dos caminhoneiros e o travamento do escoamento da produção ocasionado pela indefinição na tabela de frete deixaram claro a dependência do Brasil ao sistema rodoviário. Para entender a complexidade do assunto, especialistas explicam como chegamos ao cenário atual e como o problema pode ser resolvido.

“A opção por investir em rodovia veio de uma política das década de 1950 e 1960, quando as rodovias eram vistas como infraestruturas do futuro. Hoje, temos uma estrutura rodoviária madura, com modelos bem implementado, enquanto temos uma malha ferroviária não tão desenvolvida assim”, disse a especialista em infraestrutura logística da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ilana Ferreira.

O escoamento da produção agropecuária predomina nas estradas. A malha rodoviária transporta 75% de tudo o que é produzido no país e o resto é escoado pelas vias marítima, aérea e ferroviária. Por esse motivo, a dependência dos caminhoneiros é tão grande.

“Entre o governo militar e o que nós vivemos hoje, passamos 30 anos sem nenhum investimento em ferrovias ou hidrovias”, ressaltou o presidente da Câmara Setorial de Infraestrutura e Logística do Ministério da Agricultura, Edeon Vaz.

Impacto no agronegócio

No agronegócio, produtores dizem que a distribuição na logística modal poderia reduzir custos com transporte. Somente 12,2% das estradas são asfaltadas no país, enquanto 61% das vias estão em condições ruins ou péssimas e são nelas que os gastos com manutenção dos caminhões aumentam até 27%.

“Isso traz cada vez mais uma situação que pode prejudicar a nossa competitividade, que já é baixa diante de nossos concorrentes, o que acaba afetando muito o produtor. Afinal, temos o maior custo de logística do mundo’, falou o presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz.

Nos últimos dois anos, o Ministério dos Transportes investiu mais de R$ 29 bilhões em infraestrutura logística, mas especialistas dizem que os recursos precisam ser priorizados em projetos de desenvolvimento de hidrovias e ferrovias. “Temos projetos de grande relevância para o agronegócio, como ferrovias que estão nas novas fronteiras agrícolas, que podem interagir com a BR-163 e BR-158. Tem que se investir em rios como Tocantins e o rio Madeira, que precisa de intervenções simples, como sinalização e derrocamento dragagem”, falou a assessora técnica da Comissão de Infraestrutura e Logística da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), Elisângela Lopes.

Para a especialista em infraestrutura, o desafio em relação às ferrovias é ainda maior, já que todas elas funcionam sob concessão e o direito de passagem de uma ferrovia concedida para a outra, apesar de lei, nem sempre é garantido. “Isso não está sendo colocado em prática. A antecipação da prorrogação dessas concessões permitiria não só a exigência de certos investimentos dentro do contrato, quanto também o compartilhamento da malha, o que aumentaria a competição no setor”, completou.