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Estoque baixo e exportação recorde acendem alerta para desabastecimento em 2021

Especialistas comentam a possibilidade de faltar soja e milho para abastecer a indústria brasileira

No primeiro levantamento da safra 2020/21 divulgado nesta quinta-feira, 8, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê que a produção total de grãos vai superar 268 milhões de toneladas e bater recorde, com crescimento de 4,2% em relação à temporada anterior. Entretanto, com a expectativa de maior exportação da história, a possibilidade de desabastecimento e alta de importações preocupa o mercado interno.

Segundo a Conab, no último mês, os estoques públicos contavam com 161 mil toneladas de milho, volume bem menor em comparação com as 649 mil toneladas do mesmo período do ano passado. O último boletim da companhia ainda estima que a safra 2019/2020 deve fechar com estoque de passagem de pouco mais de 10 milhões de toneladas, suficiente para atender a demanda interna por 56 dias a partir de fevereiro.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia mostram que, de janeiro a agosto de 2019, o Brasil havia importado 117 mil toneladas de soja. No mesmo período deste ano, as compras passaram de 490 mil toneladas, crescimento de 420%.

Para o analista de mercado Vlamir Brandalizze, a situação é um reflexo do aumento do consumo de alimentos em consequência da pandemia do novo coronavírus. “Os chineses neste começo de temporada tiveram os menores estoques de milho, soja e trigo desde 2010, e acabaram indo com muita agressividade para o mercado dos grãos. O volume dos estoques baixaram muito, e não só o nosso, mas o norte-americano também”, explica.

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Bartolomeu Braz, afirma que a indústria tem que adequar à modernidade do mercado. “Ela tem que se preparar para algumas situações adversas. Da mesma forma que o produtor vende antecipado para garantir seus cursos, a indústria, para manter seus processamento, tem que fazer compras antecipadas”.

Em agosto, o Ministério da Agricultura emitiu uma nota informando que avaliava a possibilidade de zerar a tarifa de importação para soja e milho provenientes de países de fora do Mercosul a fim de garantir a manutenção de preços dos produtos nas prateleiras dos supermercados e controlar inflação. Fontes do Ministério da Economia afirmam que para a próxima reunião do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex/Camex), marcada para acontecer no próximo dia 14, já está em pauta um pedido de retirar a Tarifa Externa Comum (TEC) aplicada à soja em grãos e ao farelo e óleo de soja.

O diretor-executivo de Política Agrícola da Conab, Sérgio de Zen, tranquiliza o mercado interno e garante que não haverá desabastecimento. “Nós sabemos que temos um ano onde o volume de soja é mais justo que nos outros anos. Mas também nós não temos a menor possibilidade de faltar produto. Porque os mesmos canais que importam, exportam. A soja é como uma moeda que ora está sendo importada, ora está sendo exportada. Isso é um fluxo natural.”