Mosca-branca é o inimigo a ser combatido no Centro-Oeste

Praga ganha força na safra 2016/2017, se espalha com clima seco e perdas chegam a quase 50% em algumas lavouras da região. Danos podem ficar maiores com a soja

Daniel Popov, de São Paulo
A mosca-branca que já era um problema dos últimos anos, está ganhando força para esta nova safra e é a praga a ser combatida na temporada 2016/2017 garantem especialistas agrônomos. Os prejuízos causados por ela já chegam a quase 50% da produção em algumas propriedades de Mato Grosso e Goiás. Gastos para controle se elevaram em 35%.

Segundo a coordenadora da Comissão de Defesa Agrícola, Roseli Giachini da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), o clima deve ajudar a proliferação da praga neste ano, ainda mais com a confirmação de um La Niña fraco ou neutralidade climática, já que a perspectiva é de períodos mais secos em algumas regiões do Centro-Oeste brasileiro. “A mosca-branca tem preferência por climas mais secos, e o produtor precisa monitorar desde já suas lavouras”, garante Roseli. “Em muitas áreas de feijão, aqui de Mato Grosso, já notamos a alta população da praga.”

Durante a primeira Rodada Técnica de mosca-branca, realizada pela Aprosoja em Nova Mutum e Lucas do Rio Verde, no qual participaram mais de 50 agricultores, consultores e pesquisadores, a coordenadora relatou casos de produtores de feijão com perdas de quase 50% da safra, por conta da mosca-branca. “O produtor que safra passada colheu mais de 50 sacas de feijão por hectare, disse que não irá conseguir tirar nem 30 sacas neste ano, tamanho prejuízo causado pelo Mosaico, doença transmitida pela praga”, conta Roseli.

Outro produtor da região teve problema parecido, e os prejuízos também. Lino Ambiel, agricultor de Nova Mutum, estima que deve perder 50% de sua produção de feijão nesta safra devido à praga. “Houve custo alto com as aplicações de inseticidas e agora a perda na produtividade. Ainda tem a preocupação com a próxima safra de soja. É preciso conscientizar a todos sobre o manejo”, frisou.

Para Roseli o produtor precisa inicialmente monitorar suas lavouras periodicamente, já que a mosca-branca migra com facilidade e pode se esconder em vegetações próximas. Feito isso e notando a incidência, é preciso classificar se a plantação possui ovos, ninfas e adultos, assim o combate pode ser mais efetivo, já que no mercado existem produtos contra cada umas das fases da praga e devem ser aplicados corretamente. “O produtor precisa manejar adequadamente, com aplicações no tempo certo e produtos corretos”, afirma Roseli. “Existem vários produtos no mercado que combatem a mosca-branca, alguns não afetam os ovos e as ninfa, só pega o inseto adulto. Não adianta jogar um monte deste, que não fará o controle efetivo.”

A falta de um controle efetivo pode piorar ainda mais a situação das lavouras, já que em grande população a mosca branca pode trazer um problema ainda mais grave, o fungo fumagina, que retira das folhas a capacidade da fotossíntese, reduzindo drasticamente a produtividade. “Aqui em Mato Grosso já encontramos muitas plantações com fumagina”, afirma o pesquisador da Embrapa Soja, Samuel Roggia. “Depois os custos ficarão ainda mais elevados e os prejuízos também.”

Para se ter uma ideia, na safra anterior, 2015/2016, o combate a mosca-branca nos Estados de Mato Grosso e Goiás elevou em 35% os gastos com a compra de inseticidas, segundo levantamento realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Em Campo Novo do Parecis (MT), o produtor de soja que gastou em média R$ 385 por hectare com inseticidas na safra 2014/2015, e nesta R$ 508.Em Primavera do Leste (MT), o gasto aumentou 39% e em Sorriso (MT), os gastos médios subiram de R$ 302 por hectare para R$ 377, de uma temporada para outra. Na região de Rio Verde (GO) o surto foi ainda maior, causando aumento de 51% no dispêndio com inseticidas, segundo levantamento.

Presente durante a rodada técnica em Mato Grosso, o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT) afirmou que existe a possibilidade de aumentar a exigência para o controle da praga. “Estamos fiscalizando neste momento o cumprimento do vazio sanitário da soja e também em locais onde há pivô. A partir das próximas safras, poderemos pensar em fiscalizar os manejos para que todos usem as mesmas estratégias para evitar a infestação”, explicou Waldemir Batista, agrônomo do Indea-MT na unidade de Lucas do Rio Verde.

Já Goiás, está lançando um hotsite, para alertar os produtores do estado sobre as regiões com maiores problemas. A Embrapa Arroz e Feijão e a Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) realizaram uma capacitação com fiscais da Agrodefesa para o levantamento fitossanitário da mosca-branca. “Será criado no hotsite um sistema de alerta para mosca-branca baseado nos dados colhidos pelos fiscais que estarão em campo, explica Mário Sérgio, gerente de Sanidade Vegetal da Agrodefesa.