Soja Brasil

Soja: pesquisador da Embrapa propõe solução para a falta de água na lavoura

Déficit hídrico vem gerando quebras seguidas de safra em estados brasileiros. Somente Rio Grande do Sul e Paraná deixaram de produzir mais de 15 milhões de toneladas do grão nos últimos três ciclos

Nas últimas três safras, somente o Rio Grande do Sul e o Paraná, segundo e terceiro maiores produtores brasileiros de soja, deixaram de produzir mais de 15 milhões de toneladas do grão. Esse potencial desperdiçado resultou em prejuízo econômico da ordem de U$ 8 bilhões, considerando-se o valor de U$ 500,00 a tonelada, segundo levantamento feito pela Embrapa.

A quebra na safra de soja no Sul do país vem sendo motivada pela deficiência de água para que as plantas se desenvolvam plenamente. “Percebemos que a soja pode até suportar temperaturas mais altas, mas, quando há restrição de água, o dano para a planta é, muitas vezes, irreversível”, avalia o pesquisador da Embrapa Soja José Renato Bouças Farias.

Lavoura de soja seca em Mato Grosso do Sul quebra, la niña, estiagem
Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural

Entre as principais estratégias recomendadas para contornar o problema está a diversificação de culturas e a adoção de práticas de manejo do solo que melhorem a construção de perfil do solo para aumentar o armazenamento, o enraizamento em profundidade, a maior infiltração de água e o menor escorrimento superficial.

Proposta de solução

O pesquisador da Embrapa Soja, Henrique Debiasi, ressalta que o consórcio de milho com braquiária é uma alternativa de diversificação que gera pouca mudança no sistema operacional, mas que traz grande impacto à qualidade dos sistemas de produção. A consorciação de milho com a braquiária é o primeiro passo para minimizar os efeitos da compactação do solo que, entres outros malefícios, atrapalha a infiltração de água.

“Ao introduzir a braquiária no sistema produtivo, há aumento de palhada na superfície do solo e as raízes da braquiária funcionam como descompactadoras para melhorar a infiltração de água”, explica o especialista.

Levantamento desenvolvido pela Embrapa, pelo IDR-PR e pela cooperativa Cocamar, demonstrou que áreas do Paraná cultivadas há vários anos com a sucessão milho segunda safra-soja apresentaram, em média, 20 milímetros por hora de infiltração de água. Por outro lado, áreas cultivadas com milho consorciado com braquiária têm demonstrado que existe um ganho de 20 mm/hora na taxa de infiltração para cada ano de uso do consórcio.

Desta forma, para áreas com mais de cinco anos de uso desse consórcio, a taxa de infiltração ultrapassa 100 mm/hora. Isso traz um grande impacto na conservação do solo e da água uma vez que, ao aumentar a taxa de infiltração, se diminui drasticamente a água que escoa na superfície do solo, reduzindo o potencial erosivo.

Rendimento superior para a soja

Os sistemas diversificados também são mais lucrativos. Por quatro safras, o pesquisador Henrique Debiasi contabilizou, em experimento na Embrapa Soja, a produtividade da soja depois do milho solteiro e depois do consórcio do milho com braquiária.

No início da safra 2020/2021, por exemplo, houve um forte déficit hídrico no experimento em Londrina (PR) e, mesmo assim, a soja plantada depois do consórcio do milho com braquiária apresentou rendimento 10% superior quando comparada com a soja pós-milho solteiro. “Nessa condição, a soja sobre a braquiária se beneficiou da condição de solo com mais umidade, com menor temperatura em virtude da palhada e do trabalho feito pelas raízes da braquiária”, detalha Debiasi.

O pesquisador explica que a palhada da braquiária reduz a evaporação de água e mantém o solo em temperatura adequada para o crescimento das raízes da soja. Porém, o mais importante é o trabalho feito pelas raízes da braquiária, que torna o solo mais fértil. “Do ponto de vista físico, as raízes abrem os poros do solo facilitando a infiltração e o armazenamento de água e ajudam para que as raízes da soja consigam crescer em profundidade para buscar mais água”, relata.