Rio Grande do Sul

Estiagem no RS: iniciativas tentam amenizar impactos e garantir abastecimento de água

De construção de cisternas a distribuição de água por caminhões-pipa e entrega de cestas básicas, produtores rurais e governo adotam ações para atender as necessidades da agropecuária e da população

Além das perdas em lavouras e na pecuária de corte e de leite, a estiagem severa que atinge o Rio Grande do Sul tem trazido dificuldades de acesso à água, tanto para a produção quanto para consumo animal e humano.

Segundo a Rede Técnica Cooperativa, as perdas nas lavouras já estão em 53%. Na soja, a quebra de produtividade está em 16%, caindo de 3.490 kg/ha em dezembro para 2.940 kg/ha neste mês. No milho sequeiro, a redução é de 80%.

Estiagem no RS: milho com baixa produtividade
Milho com baixa produtividade. Foto: Emater Santa Maria

Na região do município gaúcho de Santa Maria, a área de soja soma 1 milhão de hectares, e as perdas já passam de 50% em algumas lavouras, além de muitos impactos em milho. Com isso, aumentam os acionamentos de seguro.

De acordo com o gerente regional da Emater Guilherme Passamani, todos os municípios dessa área têm algum prejuízo agrícola já estabelecido e irreversível. “A gente tem feito um grande esforço para dar conta de auxiliar na perícia agrícola, que é quando se estimam os prejuízos agrícolas nas culturas e que o seguro cobre”, diz ele.

Além das perdas em lavouras e na pecuária de corte e de leite, uma grande dificuldade dos produtores tem sido obter água para irrigação, manter a produção ou consumo próprio.

Algumas iniciativas estão sendo tomadas tentando amenizar a situação e garantir o abastecimento. Municípios como Capão do Cipó têm recebido água por caminhões-pipa ao longo de todo o ano, já que ali já são três ocorrências de estiagem num período de quatro anos. Famílias de agricultores também têm obtido cestas básicas. Em Erechim, no norte gaúcho, são 40 famílias atendidas e 120 mil litros de água distribuídos diariamente.

Nesta semana, o governo estadual entregou retroescavadeiras, plantadeiras e ensiladeiras em 129 municípios. As máquinas devem ser utilizadas na melhoria da estrutura de estradas e na construção de açudes para a amenizar a estiagem.

O governador Eduardo Leite afirma que o Executivo do estado tem trabalhado muito próximo às prefeituras para atender às demandas dos cidadãos gaúchos. “Eu sempre insisto que não existe um cidadão federal, estadual ou municipal. O cidadão é o mesmo e nós temos obrigação de trabalhar conjuntamente”.

Cisternas contra a estiagem

açude contra estiagem
Foto: Emater Santa Maria (RS)

Canudos do Vale, na região central, por sua vez, investe na construção de cisternas para os produtores desde o ano passado. Já são 30 estruturas, que podem armazenar de 120 a 180 mil litros de água. A prefeitura entra com as máquinas e custeia 30% do valor. Isso ajuda a manter produtores de suínos e aves.

O prefeito de Canudos do Vale, Paulo Bergmann, afirma que o programa surgiu em função de o município ser essencialmente agrícola, com a suinocultura e avicultura sendo as bases da economia local. “Noventa e três por cento da nossa arrecadação vem daí”, conta.

A cisterna veio em boa hora para o produtor rural Andrei Caliari. O aviário onde aloja frangos e o gado de leite da propriedade consomem 11 mil litros de água por dia. O reservatório consegue armazenar água de vertentes ou chuva e garante o abastecimento em épocas de seca.

Caliari afirma que não pensou duas vezes para fazer o investimento na construção da cisterna. Sem ela, conta, estaria usando água “da rua”, e elevando os custos, ou estaria deixando as vacas e frangos passarem sede. “A gente já pensa em fazer outra no ano que vem, porque, com essa falta de chuva, a gente tem que ter água armazenada para passar o verão. Não temos outra saída”, diz.

O boletim Emater desta semana destaca que o sol escaldante reflete com força sobre lavouras que tentam sobreviver sem umidade. Em quase todas as regiões do estado pode ser vista soja com dificuldade de desenvolvimento, com folhas secas ou que nem nasceu ainda. No milho, o desenvolvimento das lavouras mais adiantadas também foi prejudicado.

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