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Soja: Embrapa confirma que doença achada na Bahia não é nova, mas é destrutiva

De acordo com a entidade, o patógeno vive no solo e pode sobreviver por longo tempo em restos culturais, atacando plantas jovens e adultas

Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), confirmaram a ocorrência de uma doença que pode causar grandes estragos na cultura da soja: a podridão radicular de Phytophthora. Diferente do noticiado em alguns sites, a doença não é nova no Brasil, detectada pela primeira vez em meados de 1995. O alerta atual foi dado pela entidade, pois o patógeno apareceu pela primeira vez na Bahia.

No Brasil, plantas de soja com sintomas da doença já foram encontradas nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Tocantins, São Paulo e, agora, na Bahia.

“Acho que esse alarde se deu porque quando se fala da ocorrência de doenças, ainda mais as que reduzem produtividade ou aumentam os custos, sempre assusta. O objetivo de divulgar a informação, por parte da Embrapa e da Fundação Bahia, é que caso o agricultor suspeite dessa ocorrência, nos informe, permitindo assim trabalhos ainda necessários em relação ao patógeno. Isso também vai possibilitar a indicação e o desenvolvimento de cultivares mais adequadas”, diz a pesquisadora da Embrapa Soja, Claudine Seixas, que atuou junto com pesquisadores da Embrapa Algodão e da Embrapa Cerrados.

A ocorrência da doença foi comunicada à Associação Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab). O alerta aos produtores da região está sendo feito em parceria com a Fundação Bahia.

Na Bahia, os primeiros sintomas da doença foram relatados na safra 2017/2018, quando ocorreu morte de plântulas e de plantas adultas com apodrecimento da raiz e escurecimento da haste. Tentativas para confirmação da causa do problema foram realizadas, entretanto, na época não foram observadas as estruturas típicas do patógeno nas amostras coletadas.

“É um patógeno de difícil detecção, precisa ser feito um exame minucioso das raízes das plantas“, explica a pesquisadora Claudine Seixas.

Em meados de dezembro de 2019, técnicos da Fundação Bahia e pesquisadores da Embrapa, conseguiram novas amostras de raízes de plantas de soja, de diferentes cultivares com os mesmos sintomas já verificados anteriormente na região e, nesse caso, foi confirmada a presença de estruturas características do patógeno.

Sintomas

Os sintomas da podridão radicular de Phytophthora podem ser observados desde a pré-emergência até o enchimento de grãos. Pode ocorrer apodrecimento de sementes resultando em falhas no estande inicial e ressemeadura de área. As plantas jovens, que são mais suscetíveis, morrem rapidamente.

Já as plantas adultas morrem lentamente, as raízes apodrecem, tornando marrom-escuras, que progride para a haste e pode atingir as hastes laterais, as folhas amarelecem e secam. Os sintomas ocorrem em reboleiras ou plantas isoladas, em áreas de solo compactado ou com acúmulo de umidade.

Segundo a pesquisadora da Embrapa, algumas hipóteses sobre como a doença se espalha foram aventadas, mas nenhuma traz a certeza.

“Pode ser pela movimentação de máquinas, com o solo que contenha o patógeno aderido a elas. Quando se faz uma gradagem, por exemplo, pode espalhar as estruturas do patógeno e assim ampliar as reboleiras. Quando morava em Mato Grosso, as vezes a gente via o vento levantar poeira de áreas descobertas, isso poderia disseminar patógenos presentes ali. Enfim, são hipóteses, não temos como afirmar ao certo”, diz.

Claudine ainda destaca que esse patógeno pode ocorrer naturalmente no solo e causar a doença apenas quando as condições são favoráveis. A doença produz uma estrutura chamada oosporo, uma resistência que permanece no solo por muito tempo. “É formada dentro das raízes infectadas e liberada no solo com a decomposição da planta, assim o patógeno se perpetua, mesmo sem a planta hospedeira presente”, explica ela.

Controle já existe

Entre as formas de controle do patógeno, Claudine destaca o uso de cultivares com genes de resistência a doença e também através do tratamento de sementes com produto específico para essa doença.

“Embora o patógeno não seja transmitido por semente, o tratamento protege a soja no comecinho do desenvolvimento. Também é importante o bom manejo do solo porque o solo compactado, com acúmulo de umidade, favorecem a ocorrência da doença, caso o patógeno esteja presente”, diz

A Fundação BA, Embrapa e outras instituições parceiras estão intensificando as pesquisas visando determinar qual(is) patótipo(s) de P. sojae estão presentes na região, para possibilitar mais agilidade e precisão na obtenção e a indicação de cultivares resistentes adaptadas à região, explica o pesquisador Geraldo Estevam de Souza Carneiro, da Embrapa Cerrados.

“Também estamos intensificando pesquisas em parceria com produtores, para a implementação de medidas de controle, de forma a evitar a disseminação do patógeno e as consequentes perdas para produtores e toda a sociedade regional”, comenta Fabiano Jose Perina, da Embrapa Algodão.

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