Armazenagem não acompanha o crescimento da safra

Segundo vice-presidente da Kepler Weber, empresa líder no segmento, setor sofreu “freada brutal” nos últimos dois ciclos

O atual nível de negócios em armazenagem é totalmente incompatível com o tamanho da safra brasileira de grãos, avaliou na manhã desta terça, dia 22, o vice-presidente da Kepler Weber, Olivier Colas, durante teleconferência com analistas sobre os resultados da companhia no quarto trimestre de 2015 e no acumulado do ano passado. A empresa é líder no setor de armazenagem de grãos.

Colas lembrou que, entre 2012 e 2014, o mercado de armazenagem de grãos mais que duplicou, sustentado essencialmente por estímulos do governo federal que previa, por meio do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), R$ 5 bilhões anuais para financiamento de aquisição de silos a taxas subsidiadas, assim como o financiamento das obras civis necessárias à instalação dos silos.

Com a redução dos recursos entre os ciclos 2014/2015 e 2015/2016, de R$ 3,5 bilhões para R$ 2 bilhões, o setor viveu uma “freada brutal”, disse Colas. “A safra 2015/2016 é muito maior que a de 2011/2012, mas a demanda por silos diminuiu. No entanto, com a baixa dos preços das commodities, o custo Brasil aparece com mais intensidade. Ou a gente ataca isso ou a cadeia agrícola vai perder competitividade no mercado externo”, declarou o executivo.

Ainda que os recursos com juros subsidiados tenham caído, o vice-presidente da Kepler observou que há setores do agronegócio que têm investido em armazenagem com seus próprios recursos. Se em 2013 83% do faturamento da companhia era atrelado a financiamentos do PCA, o porcentual caiu para 75% em 2014, 65% em 2015 e continua diminuindo neste início de 2016.

“[Até o momento] 54% dos pedidos feitos em 2016 serão financiados com recursos próprios dos produtores”, afirmou Colas. É um porcentual “muito alto”, complementou o executivo, acrescentando que níveis semelhantes só tinham sido vistos em 2011 e ainda eram mais baixos, com 41% das vendas feitas com aportes dos próprios agricultores.

Para compensar a queda nas vendas internas de silos, a companhia pretende continuar a diversificação de suas atividades. Uma das formas será ampliando as vendas no segmento de peças e serviços. A proposta, contudo, não é simplesmente crescer nas vendas avulsas.

Colas explicou que empresa vai fazer um trabalho ativo com proprietários de ao menos 4.000 unidades de armazenagem no país para oferecer serviços de automação e novos equipamentos. “É uma tendência de longo prazo investir cada vez mais nessa área”, disse.

O fornecimento de equipamentos para a movimentação de granéis em terminais portuários é outra frente de diversificação de negócios da Kepler Weber. A empresa já fornece transportadores horizontais e esteiras para esses projetos, mas algumas estruturas metálicas, que respondem por 50% dos investimentos nessas obras, ainda não são produzidas pela companhia, que adquire de terceiros estas estruturas.

“Estamos avaliando se vamos entrar nesse ramo e verticalizar todo o processo para o cliente. O avanço no segmento de movimentação de granéis depende do reforço na capacidade produtiva de equipamentos que ainda não produzimos”, declarou Colas.