Ensino rural: escolas do campo vivem situação precária

Reportagem faz parte da campanha "A Educação Precisa de Respostas", promovida pelo Grupo RBSSe a realidade das escolas públicas já é difícil, a das escolas rurais é ainda mais complicada. Longe dos grandes centros urbanos, as instituições sofrem com a precariedade da estrutura física e com a ausência de políticas públicas que atendam às especificidades da vida rural.

Por fora, o prédio de uma das 10 escolas rurais do município de Atibaia, no interior paulista, aparenta ser novo, mas, segundo a diretora da instituição, Rosângela Cremashi, as dificuldades são muitas.

– Não temos água encanada em nenhuma das escolas rurais, só água de poço e, em algumas, nem isso. Outras sequer têm telefone, biblioteca, sala de professores – conta.
Rosângela assumiu a direção da escola e de outras quatro na zona rural do município há dois anos. Além da preocupação com o conteúdo pedagógico, ela também é responsável pela administração das despesas. Os estabelecimentos de ensino rurais de Atibaia atendem 470 alunos. No ensino fundamental, as turmas são multisseriadas, e o 2º e 3º anos, por exemplo, são realizados ao mesmo tempo, com uma única professora.

No Brasil, mais de 70% das escolas rurais funcionam dentro deste modelo, mas, segundo Priscila Cruz, uma das diretoras do movimento Todos Pela Educação, que desde 2006 trabalha para garantir e melhorar a educação básica no Brasil, este não é o único problema.

– A educação no campo tem uma situação que é pior do que a média brasileira, que já não é boa. Nós temos uma taxa de evasão muito alta e níveis de aprendizagem muito baixos, o que é especialmente pior no campo – afirma.

O movimento Todos Pela Educação é financiado pela iniciativa privada, que congrega sociedade civil, educadores e gestores públicos. A cada ano, o movimento divulga o Anuário Brasileiro da Educação Básica, documento que serve de referência para discussões sobre o tema. As análises e os números mostram que no campo os desafios são maiores do que nas áreas urbanas. A gestão pública tem um custo ainda maior porque precisa construir e manter escolas de pequeno porte e investir em transporte para os alunos.

Na opinião de Priscila, há um contrassenso quando se compara o desenvolvimento econômico no campo com a educação.

– O campo é hoje responsável por grande parte da nossa economia e é exatamente no campo que a gente não tem oferecido ou garantido educação de qualidade para todos.
O campo já é uma região que tem uma desigualdade social muito grande, que acaba refletindo na própria educação. Temos que combater isso – enfatiza.

A dura realidade da educação no campo é evidenciada nas estatísticas e no empenho de quem ainda acredita nas mudanças. Segundo Priscila, o problema deve ser pensado na sua especificidade, o que precisa ser incorporado na elaboração de política e considerado na implementação.