Lagarta devora lavouras e provoca prejuízos de R$ 2 bilhões na Bahia

Praga já dizimou 2% da área cultivada com algodão no oeste baianoO aumento da incidência da lagarta Helicoverpa zea, mais conhecida como lagarta da espiga do milho, deve provocar prejuízos estimados em R$ 2 bilhões. Somente no oeste da Bahia, onde é maior a incidência da praga, as perdas devem chegar a R$ 1 bilhão, de acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Os prejuízos incluem o aumento dos gastos com inseticidas para controle da praga e as perdas de produtividade em lavouras de soja e algodão.

O presidente do Grupo Brasileiro de Consultores de Algodão, Celito Eduardo Breda, que também é diretor da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), calcula que as lagartas já dizimaram 2% da área cultivada com algodão no oeste baiano e prevê que, se não houver controle, as perdas nos próximos 30 dias podem alcançar 4% da produção esperada.

O alerta dos produtores baianos levou o Ministério da Agricultura a decretar emergência fitossanitária para controle da lagarta Helicoverpa zea. Breda, que é especialista no assunto, afirmou que não se trata apenas da lagarta da espiga do milho, também conhecida em outros países como lagarta da maçã do algodão, mas de várias espécies da helicoverpa, o que dificulta o controle das pragas que atacam as lavouras com voracidade.

– Ainda não foi feito um trabalho científico para identificar as espécies – aponta.

Celito Breda explicou que o aumento da incidência das lagartas nesta safra se deve a uma série de fatores. Ele conta que um deles foi a ampliação do cultivo do milho transgênico resistente às lagartas, cuja toxina elimina 100% da espécie spodoptera (lagarta do cartucho) e apenas 10% da helicoverpa. Breda relata que antes, nos plantios do milho convencional, a lagarta spodoptera, que é canibal, contribuía para o controle da helicoverpa. Sem o inimigo natural, a população da lagarta da espiga do milho se multiplicou.

Segundo ele, a estiagem do ano passado e o cultivo sucessivo de várias culturas ao longo do ano contribuíram para a sobrevivência da espécie e o aumento da população da praga, que agora ameaça as lavouras. Uma das propostas apresentadas ao governo é o estabelecimento de um vazio sanitário entre agosto e outubro, pois a helicoverpa se hospeda nos mais variados tipos de lavouras, como feijão, trigo, cevada, braquiária, milheto, sorgo, melancia, laranja, abóbora e adubação verde (crotalária, guandu etc.).

Importação de inseticida

Os produtores de algodão estão pedindo ao governo a liberação emergencial da importação de inseticidas do grupo “emamectin benzoato”, que é proibido no Brasil, mas utilizado em países que têm controle rígido sobre agrotóxicos, como Estados Unidos, Austrália e Japão. Breda diz que a liberação é necessária para diversificar a gama de produtos utilizados no controle das lagartas e evitar que as pragas se tornem resistentes a determinado princípio ativo. Ele cita como exemplo o caso do inseticida Premio, da DuPont, um dos mais utilizados no controle da helicoverpa.

– Na safra passada utilizamos 70 ml do produto para controlar 90% da população da lagarta. Nesta safra com 150 ml controlamos apenas 70%.

Os produtores também defendem que o governo federal torne lei a obrigatoriedade de plantar áreas de lavouras convencionais, chamadas de refúgio, nas bordas das lavouras de transgênicos, para permitir a multiplicação dos inimigos naturais das pragas. Breda afirmou que a Austrália, após perder 75% da produção de algodão em 1997, por causa da incidência de pragas, tornou obrigatório o refúgio em 50% das lavouras de algodão. Ele diz que no Brasil o refúgio é feito de acordo com a indicação das empresas que produzem as sementes. 

Agência Estado