Conilon bate preço do arábica pela primeira vez e deve ter novas altas

Produção foi afetada por secas severas e crise no abastecimento faz saca ultrapassar R$ 500

Fonte: Pixabay/divulgação

O valor do café conilon superou nesta semana o arábica pela primeira vez na história. Esse cenário é reflexo da quebra de safra, especialmente no Espírito Santo. Afetado por secas severas, o setor passa por uma crise inédita no abastecimento, que deve se prolongar pelos próximos meses.

Atualmente, a saca do conilon está cotada acima de R$ 500, ultrapassando o valor dos grãos de arábica de pouca qualidade. É uma situação atípica, que não havia ocorrido até o ano passado e, mesmo assim, com valores mais baixos que os atuais. 

O analista do mercado de cafés Eduardo Carvalhaes lembra que, além do território capixaba, também o sul da Bahia foi atingido pela estiagem – é nessas regiões que se concentra a produção brasileira de conilon. “Nas ligas de café, esse é o mais tomado pelos brasileiros, por ter tradicionalmente o preço mais baixo”.

O cenário preocupa a indústria do setor porque o cenário não deve se alterar em curto prazo. A safra em curso será afetada pelo estresse da temporada anterior, e as previsões climáticas não são animadoras. A crise atinge de forma mais aguda o conilon, mas também o arábica vem sendo afetado. Assim, os preços tendem a se manterem firmes.

“Quando chegar o final desta safra, nós vamos estar com os estoques de 2016 zerados e vamos depender da safra de 2017, que, segundo nossos agrônomos, vai ser menor que a de 2015″, afirma Carvalhaes.

O consumo nacional de café conilon é de 12,2 milhões de sacas por ano. Faltando menos de três meses para o fim do ano, o Brasil produziu apenas 8,4 milhões de sacas.  “Em 32 anos de (mercado do) café, nunca vivi uma situação desse tipo”, diz o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz.

Com menor volume disponível de conilon, que responde por 40% da mistura do café vendido nos supermercados, a indústria começou a alterar a composição do produto. A substituição do grão no blend já vem sendo feita de forma gradual há um ano por algumas empresas, para que os custos não explodissem. “A indústria não tem margem pra revezar esses aumentos. Portanto, todos esses aumentos do custo do grão vão acabar sendo repassados para o preço do produto final”, diz Herszkowicz.