Método possibilitará certificação de sementes de feijão livres de bactéria

Patenteada pela Embrapa, metodologia é usada para identificar a bactéria causadora da murcha de fusarium

Fonte: Roberta Silveira/Canal Rural

Até chegar à mesa do consumidor, o feijão sofre com o ataque de diversos patógenos nas lavouras, como vírus, bactérias, fungos e nematoides que acarretam perdas significativas na produção dessa cultura agrícola no Brasil. Para se ter uma ideia da proporção dos danos econômicos, a despeito do status de preferência nacional na alimentação da população brasileira e do fato do Brasil ser o maior produtor mundial de feijão, o país tem sido obrigado a importar o produto nos últimos anos, especialmente da Argentina e da China.

Segundo a Embrapa, entre as bactérias, uma das piores é a Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens (Cff), causadora da doença conhecida por murcha de curtobacterium. Trata-se de um patógeno cujo controle é bastante difícil, sendo a melhor opção o controle preventivo, com a utilização de sementes livres da bactéria e o uso de variedades resistentes. A boa notícia, de acordo com o órgão, é que a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia desenvolveu uma metodologia de ponta que permite identificar a bactéria antes que ela comece a infectar a planta.

O método já foi patenteado e permite a negociação com empresas parceiras para colocá-lo à disposição dos produtores de feijão no Brasil. De acordo com a pesquisadora responsável pelo desenvolvimento e uma das inventoras da patente, Patrícia Massenberg Guimarães, a novidade é que a técnica consegue certificar as sementes. “O que é um alívio para os produtores de feijão, que para exportá-las dependem dessa certificação, já que a bactéria se propaga por sementes”, explica.

A utilização de sementes sadias é uma medida de grande valia, pois segundo estudos desenvolvidos em diferentes regiões do Brasil (Maringoni & Camara, 2006), constatou-se que 50% dos lotes de sementes de feijão estavam infectados com a bactéria.

A metodologia

A tecnologia, intitulada “Métodos para detecção e identificação de Curtobacterium flaccumfaciens pv flacumfaciens em uma amostra biológica e Método de certificação de sementes”, se baseia na utilização de primers de PCR para detecção dessa bactéria em sementes. A técnica da PCR (reação em cadeia da polimerase) permite que um fragmento específico da molécula de DNA seja amplificado milhares de vezes em apenas algumas horas.

Trata-se de um método que revolucionou as pesquisas em biologia molecular, pois até então demorava-se muito tempo para a amplificação do DNA. A partir da PCR, é possível obter cópias de uma parte do material genético em quantidade suficiente para detectar e analisar a sequência-alvo do estudo, que no caso pertence à Curtobacterium. Para compreender ainda melhor essa metodologia, muito utilizada nos dias de hoje, inclusive na área de saúde humana, podemos compará-la à seguinte situação da vida cotidiana: para encontrar uma única pessoa em uma grande cidade, multiplica-se o seu DNA a ponto de povoar toda a cidade.

Esta reação permite, segundo a Embrapa, a amplificação de qualquer sequência de DNA coletada de amostras de materiais biológicos. De acordo com a pesquisadora, não existe na literatura científica até o momento nenhuma metodologia mais eficiente e sensível do que a PCR específica para a detecção desse patógeno em sementes de feijão. “Existem outros trabalhos posteriores ao nosso, que resultaram no desenvolvimento de outros primers de PCR que amplificam outras regiões do genoma da bactéria para fins de detecção, no entanto, até o momento nenhum trabalho mostrou maiores níveis de sensibilidade e acurácia”, ressalta Patrícia.

*Primers (iniciadores) são segmentos de ácidos nucleicos necessários para o início da replicação do DNA e constituem fitas de DNA, com mais ou menos 20 bases nitrogenadas que se ligam por complementaridade ao início da sequência de DNA que se quer multiplicar.

No caso em questão, as pesquisadoras responsáveis pela invenção, Patrícia Guimarães e Fatima Grossi, conseguiram desenvolver um primer a partir do genoma da Curtobacterium, capaz de detectá-la com rapidez e segurança em laboratório, tornando a semente de feijão livre do patógeno, antes mesmo de começar a desenvolver os sintomas.

Com informações da Embrapa