Influenza: aviários brasileiros terão um ano para se adaptar a normas preventivas

Medida assinada por Maggi prevê que granjas que não se adequarem ficarão proibidas de entregar a frigoríficos; maior despesa refere-se a colocação de telas para evitar aves selvagens

Fonte: Lucas Scherer Cardoso/Embrapa

Os aviários brasileiros terão um ano para se adaptar às normas criadas pelo Ministério da Agricultura para prevenir a entrada de influenza aviária no Brasil. As regras fazem parte da Instrução Normativa número 10, de 2017, assinada na manhã desta terça-feira, dia 21, na sede da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), pelo ministro Blairo Maggi. 

“Quem não se adaptar no prazo estará fora; não poderá comercializar e entregar aos frigoríficos”, afirmou Maggi. “A influenza aviária nos preocupa bastante. Precisamos estar preparados para que isso não aconteça no Brasil”, disse. Ele contou que a confirmação de dois focos dentro de uma mesma empresa no Chile, no mês passado, acendeu uma “luz amarela” no Brasil.

De acordo com Maggi, a medida que mais deve onerar a avicultura é a colocação de telas nas granjas para que aves silvestres não entrem em contato com as domésticas. O secretário de Defesa Agropecuária, Luis Eduardo Rangel, afirmou que os produtores também devem tratar a água utilizada na produção, realizar a desinfecção (ao redor da granja), além de adotar programa de controle de ratos. Estas medidas, que valem para granjas de aves de corte e ovos, já vigoram no país, mas agora serão exigências de mercado.

Estados como Tocantins têm seu plantel avícola 100% dentro da norma. Mato Grosso e Goiás têm números acima de 90%, segundo o diretor de relações institucionais da ABPA, Ariel Antonio Mendes. Já em São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, cerca de 40% da produção atende às normas. A instrução cita ainda a adoção de vacinas. No entanto, segundo Rangel, esta medida só seria usada caso o vírus entrasse no país.

O CEO da BRF, Pedro Faria, presente à coletiva, afirmou que as empresas estão trabalhando juntas para mitigar o problema. “Estamos fazendo um trabalho muito organizado para que o Brasil continue essa notável exceção”, disse, em referência ao Brasil ser o único entre os grandes produtores mundiais que nunca registrou a doença.

Representantes do setor produtivo, políticos e empresários evitaram estimar o investimento para implantar as medidas. Empresas que operam no sistema de integração devem subsidiar os produtores para a adaptação às novas regras. Mendes afirmou que as companhias devem adiantar o pagamento de dois a três lotes para os integrados, por exemplo. 

Maggi adiantou que as novas regras podem ferir processos de criação que seguem normas específicas de bem-estar animal. “Tem uma nova onda de bem-estar animal em que se prevê que as galinhas fiquem soltas e vão passear de tarde para botar ovo à noite. Essas coisas vão na contramão do que estamos fazendo”, disse. O ministro, no entanto, enfatizou que a pasta não vai recuar. “Pode vir sugestão, reclamação, mas o Brasil não vai mexer com isso.”

Surto mundial

O mais recente surto de influenza aviária pelo mundo fará com 700 mil toneladas de carne de frango deixem de ser exportadas pelos países atingidos em 2017, segundo o presidente-executivo da ABPA, Francisco Turra. O Brasil pode absorver grande parte desta lacuna, o que deverá favorecer as indústrias, em um período de forte queda de consumo doméstico devido à crise econômica.

Em 2016, o Brasil exportou 4,384 milhões de toneladas de carne de frango. O país é o maior exportador da proteína com 37% do mercado.

Mutação

Autoridades da China descobriram uma nova mutação da cepa H7N9 da influenza aviária, que tem sido considerada até agora a mais nociva de todas para os animais. 

De acordo com reportagem divulgada pela agência de notícias estatal Xinhua, o Centro Chinês para a Prevenção e Controle de Doenças (CDC) alertou à Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a mutação.

O aviso foi repassado logo após terem encontrado a nova cepa em quatro amostras de aves da região sul do país. Apesar de mais prejudicial às aves, o órgão disse que, até o momento, a nova mutação não representa um risco maior de infecção aos humanos.