Dólar cai 0,77% à espera de aumento de juros americanos

Medidas de ajuste fiscal no Brasil e recursos europeus alimentam ativos brasileirosO dólar fechou em queda ante o real nesta terça, dia 27, após números fracos sobre as encomendas de bens duráveis nos Estados Unidos levantarem dúvidas sobre o momento em que o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, começará a subir os juros no país.

A perspectiva de maior liquidez global e rigor fiscal no Brasil também contribuiu para o recuo da divisa. A queda hoje foi de 0,77%, a R$ 2,5706 na venda, após alcançar R$ 2,5996 na máxima do dia e R$ 2,5655 na mínima. Foi a quarta sessão seguida com fechamento abaixo de R$ 2,60.

Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de US$ 1,7 bilhão.

– Houve um alívio global com os dados norte-americanos e o mercado aqui espelhou esse movimento. Mas a verdade é que o dólar pode voltar (a subir) amanhã, se o Fed se mostrar firme – disse o gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo.

O núcleo das encomendas de bens de capital nos Estados Unidos recuou inesperadamente em dezembro, segundo dados divulgados na véspera da decisão de política monetária do Fed. O número elevou temores de que a desaceleração do crescimento global e a queda dos preços do petróleo estejam prejudicando a maior economia do mundo e levou o dólar a ampliar as perdas frente a moedas como o euro.

– Quando sai um dado ruim sobre os Estados Unidos um dia antes da reunião do Fed, o mercado assusta – resumiu o gerente de câmbio da corretora BGC Liquidez, Francisco Carvalho.

Economistas vêm mantendo a projeção de que o aperto monetário dos Estados Unidos terá início em meados deste ano, mas uma série de indicadores econômicos fracos tem alimentado, nos mercados financeiros, apostas de que isso poderia acontecer mais tarde. Quanto mais tempo o Fed levar para aumentar os juros, maior será o incentivo para que investidores busquem aplicações mais rentáveis em mercados emergentes, como o brasileiro.

Nas últimas sessões, o apetite por ativos brasileiros também vem sendo alimentado por expectativas de que parte dos recursos injetados na economia europeia pelo novo programa de compra de títulos do Banco Central Europeu (BCE) migre para o Brasil, em busca de rendimentos elevados. As medidas de ajuste fiscal adotadas desde o fim do ano passado também têm agradado investidores e contribuído para levar o dólar abaixo de R$ 2,60.

– O mercado parece estar cada dia mais tranquilo – disse o superintendente de câmbio da corretora Tov, Reginaldo Siaca.

Nesta manhã, o Banco Central deu continuidade às intervenções diárias, vendendo a oferta total de até dois mil swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares. Foram vendidos mil contratos para 1º de setembro e mil para 1º de dezembro, com volume correspondente a US$ 98,5 milhões.

O BC fez ainda mais um leilão de rolagem dos swaps que vencem em dois de fevereiro, que equivalem a US$ 10,405 bilhões, vendendo a oferta total de até 10 mil contratos. Até agora, a autoridade monetária já rolou cerca de 85% do lote total.

Bovespa

Depois de perdas intensas pela manhã e uma tarde volátil, a bolsa paulista fechou estável, com a alta das ações da Petrobras compensando a pressão exercida pelo cenário internacional.

O Ibovespa teve variação positiva de 0,03%, a 48.591 pontos. O giro financeiro do pregão foi de R$ 5,7 bilhões.

dia negativo dos principais mercados acionários mundiais acabou arrastando a bolsa brasileira para baixo durante boa parte do pregão, com o Ibovespa chegando a cair 2,5% no pior momento do dia.

As bolsas europeias recuaram com incertezas sobre a Grécia. Já o mercado acionário norte-americano sofria com resultados corporativos fracos e a queda nas encomendas de bens duráveis em dezembro, em sinal potencial de que a desaceleração global e a queda dos preços do petróleo podem estar afetando a maior economia do mundo.

Na China, os lucros das indústrias recuaram 8% em dezembro, pior performance em ao menos um ano, completando o quadro desfavorável no exterior para as commodities.

Do lado doméstico, o mercado permaneceu sensível a temores sobre um eventual racionamento de energia. As ações preferenciais da Petrobras chegaram a cair 3,83% na mínima nesta terça, mas especulações sobre o resultado do terceiro trimestre levaram à sua súbita disparada durante a tarde, com alta de 4,64% no melhor momento do dia. Os papéis fecharam em alta de 2,62%, puxando para cima a bolsa como um todo.

– O balanço está deixando o papel volátil e, como ela (Petrobras) tem um peso enorme, acaba ajudando a bolsa – disse o economista Hersz Ferman, da Elite Corretora. 

Analistas estão cautelosos e incertos sobre os números da estatal, uma vez que a Petrobras pode reconhecer uma significativa baixa contábil, em meio ao impacto da operação Lava Jato, da Polícia Federal.