Cadeia produtiva da carne debate concentração de frigoríficos em Mato Grosso do Sul

Produtores e representantes da indústria pregam maturidade no diálogo entre as partes para torná-lo mais produtivoA concentração do setor frigorífico nacional deve levar a um amadurecimento da relação pecuarista-indústria, na avaliação de representantes do segmento. As constantes reclamações dos criadores quanto à dificuldade de negociar com um número cada vez menor de compradores têm impacto direto no preço recebido e gerou discussão sobre a necessidade de melhorar o diálogo, tornando-o mais maduro e produtivo.

– Isso sempre existiu, mas voltou à tona quando, por conta da “quebradeira” de frigoríficos com a crise de 2008, ficamos sem receber – diz o pecuarista Maurício Tonhá, de Mato Grosso do Sul.

Tonhá, diretor do Grupo Estância Bahia, que fornece gado para a indústria mato-grossense, prega o diálogo para que o setor aproveite as oportunidades que surgirão a partir do crescimento do mercado.

– Boa parte da culpa desse estranhamento é nossa, do produtor. Em vez de pegarmos em armas, temos agora que levantar a bandeira branca, até para aproveitar as oportunidades que temos em venda da nossa carne no mercado interno e no Exterior – afirma.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Eduardo Riedel, defende a aproximação como forma de aprimoramento da cadeia como um todo.

– Temos que estar permanentemente sentados à mesa para melhorar essa relação, a sustentabilidade e a imagem da cadeia. A transparência nas relações comerciais também é fundamental – destaca.

A Famasul está promovendo o diálogo entre indústria e pecuarista, buscando avançar em questões como a conformidade do rendimento da carcaça.

– Essa agenda é resultado de algumas reuniões recentes que tivemos com a entidade e pecuaristas do Estado – acrescentou o diretor do Grupo JBS, Fábio Maia, da recém-criada diretoria de Relações com Pecuaristas.

Concentração

As oito maiores indústrias concentram pouco mais de 30% dos abates, de acordo com a Scot Consultoria. O dado, segundo Alcides Torres, diretor-fundador da Scot, não caracteriza uma situação “grave” de concentração.

– O estudo nacional não mostra um cenário absoluto. É preciso analisar regionalmente – opina.

Levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostra que os recentes arrendamentos das unidades do Guaporé Carne elevaram a capacidade instalada de abate do Grupo JBS no Estado de 36% em 2011 para 48%. Já dados da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) mostram que a JBS, considerando as cinco unidades em operação e excluindo duas fechadas, detém 37% dos abates no Estado. Incluindo as duas unidades a serem adquiridas do Independência (uma em Campo Grande e outra em Nova Andradina, ainda em aprovação por credores do frigorífico), esse porcentual passará a 46% em Mato Grosso do Sul.

Além da perda parcial do poder de negociação, a reclamação dos pecuaristas tem, em grande parte, foco na atuação do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Segundo eles, para apoiar o crescimento do setor, o banco de fomento acabou injetando dinheiro apenas em algumas indústrias. Já Maurício Tonhá, discorda.

– As empresas não estão totalmente erradas em captar esse dinheiro e crescer. Mas nós, pecuaristas, precisamos usufruir desse benefício e a solução é melhorarmos nosso relacionamento com a indústria – pontua.

Para o diretor técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz, a concentração é saudável, mas tem que haver um equilíbrio.

– Não é eficiente para a economia o setor ser pulverizado, porque o frigorífico que não tem escala, morre, não tem visibilidade nos mercados. E também o produtor, diante dessa situação, precisa ser devidamente remunerado. A concentração até facilita para negociação, porque levanta pontos críticos no comércio para acharmos uma solução conjunta – ressalta o presidente da Famasul, Eduardo Riedel.

A indústria rebate a tese da concentração no setor, mas está se estruturando para atender melhor os pecuaristas. A JBS criou uma diretoria de Relações com Pecuaristas e chamou Eduardo Pedroso, ex-funcionário do frigorífico Independência, em recuperação judicial desde maio de 2009, cuja venda de ativos ao JBS foi submetida aos credores, e Fábio Maia, que foi diretor executivo da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon) e também ex-funcionário do Independência. Ambos já desempenharam essa função de intermediação com os produtores.

Por sua vez, o grupo Marfrig chamou o ex-secretário da Agricultura do Estado de São Paulo e ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, João Sampaio, para ser o vice-presidente de Relações Institucionais da companhia. Ele é responsável pela intermediação da relação da empresa com os seus diversos públicos, principalmente os fornecedores da matéria-prima.