Cidade do interior de São Paulo pode ser a primeira do país a tratar 100% do esgoto rural

Com a ajuda da Embrapa, município está implantando sistemas inteligentes para tratamento dos dejetos que irão diminuir ocorrência de doenças e produzir biofertilizante 

Fonte: Canal Rural/reprodução

A cidade de Holambra (SP) pode se tornar a primeira do país a tratar 100% do esgoto gerado na zona rural. Um programa que está sendo implantado no município vai proteger o lençol freático na região, diminuir a ocorrência de doenças e ainda tem capacidade para gerar biofertilizante. Uma façanha e tanto, já que apenas metade dos brasileiros que vivem no campo tem acesso a saneamento básico.

De acordo com o engenheiro civil da Embrapa Carlos Renato Marmo, em torno de 30 milhões de pessoas vivem na área rural do país, o equivalente a 15% da população nacional. Entre os habitantes do campo, de 70% a 80% utilizam a fossa negra, que consiste em uma escavação no terreno para onde vão os dejetos. “Isso cotamina o lençol freático, o solo e os poços da região, inclusive o poço da própria região”, explica Marmo.

Para mudar essa realidade, a Embrapa está implantando em Holambra um conjunto de dois sistemas inteligentes para tratamento de esgoto. A primeira propriedade a receber a novidade pertence ao produtor de flores Antônio Regis dos Santos, através de uma força-tarefa que vai eliminar a fossa negra utilizada por sua família.

Um dos sistemas introduzidos é a fossa séptica biodigestora. O esgoto coletado passa por três caixas de fibra de vidro, transformando o material em biofertilizante. Segundo Carlos Renato Marmo, a Embrapa verificou em pesquisa que a inclusão de esterco bovino na mistura favoreceu o trabalho das bactérias presentes. “Isso melhora o tratamento de esgoto e produz um efluente de melhor qualidade, podendo ser reutilizado como um biofertilizante orgânico nas culturas da propriedade agrícola”, diz o engenheiro.

Outro sistema testado é o jardim filtrante, que coleta a chamada água cinza – proveniente de pias e do chuveiro, por exemplo – e permite que ela seja usada pra irrigar algumas culturas.  Por cima dessa lona e dessas pedras, diferentes espécies de plantas vão ser cultivadas e devem receber como irrigação a chamada água cinza, aquela usada nas pias e no chuveiro.

Marmo compara o jardim filtrante a um “pântano artifical”, com pedras, areia e espécies vegetais que se adaptam a esse ecossistema. “Nas raízes dessas plantas, desenvolvem-se micro-organismos, e essa interação com a planta trata, depura o esgoto e faz com que a água possa ser reutilizada”, explica.

Ações como essas têm impacto direto na saúde das pessoas, afirma Edna Cardozo, líder de projetos sociais do Instituto Trata Brasil, uma organização da sociedade civil de interesse público que orienta a população sobre os riscos da ausência de um saneamento adequado. Ela conta que existem várias doenças relacionadas à poluição dos rios e a alimentos que são gerados na zona rural e levados par a área urbana. 

Além da propriedade de Antônio Regis dos Santos, outras duas áreas rurais da cidade também vão receber os sistemas de tratamento. Os modelos serão testados pelos técnicos nos próximos 12 meses. Se tudo der certo, até 2020 cerca de 400 propriedades de Holambra terão tratamento de esgoto, o que representa 100% da zona rural da cidade.

O diretor do Serviço de Água e Esgoto de Holambra (Saehol), Antônio Carlos Bernardi Junior, afirma que o município tinha uma dívida pendente por não cumprimento de normas ambientais. Em 2014, foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Federal assumindo o compromisso de implantar o saneamento básico em toda a zona rural até 2020. 

“Estamos buscando uma parceria junto à Funasa [Fundação Nacional de Saúde] e à Fundação Banco do Brasil para que haja um custeio desse projeto, que é piloto, inédito no Brasil”, diz Bernardi Junior.