Por que o Brasil importa tanto trigo?

Com pouca concentração de glúten, só 30% do produto nacional serve para a panificação

Fonte: Divulgação/Pixabay

O Brasil é conhecido como um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas, no caso do trigo, a lógica é diferente. Para produzir o pãozinho francês consumido diariamente, as empresas precisam comprar o cereal no mercado internacional, cotado em dólar. Com a moeda norte-americana escalando para os R$ 4,00, a alta impacta todo mundo: da indústria à mesa do brasileiro.

A Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip) aponta que no primeiro semestre deste ano o aumento de preços para o consumidor foi de 8%. A previsão para o final de 2015 é de nova alta: 5%. Os motivos que levam a indústria a buscar no mercado externo o produto para consumo são a baixa oferta e a falta de qualidade.

Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo), a demanda do setor é de 11 milhões de toneladas, mas o país deve produzir nesta safra pouco mais de 6 milhões de toneladas. Do total produzido aqui, apenas 30% serve para a panificação. A maior parte é destinada para a produção de outras farinhas, como as de bolo. Para 2015, 5 milhões de toneladas devem ser importadas, com 60% destinados para a panificação. Resumindo: o pão depende muito do trigo cotado em dólar.

Quando falamos de qualidade do produto, isso significa que o cereal produzido em solo brasileiro tem menos concentração de glúten do que o grão produzido na Argentina e nos Estados Unidos, por exemplo. Ou seja, mesmo que a produção do Brasil fosse superior a 11 milhões de toneladas, a indústria ainda precisaria importar.

Considerada uma cultura de inverno, semeada na entressafra da soja, o trigo tem a produção concentrada no Centro-Sul brasileiro, especialmente no Rio Grande do Sul e Paraná. Só que é uma produção considerada de alto risco pelo produtor.

Além disso, por ser um produto vendido basicamente no mercado interno, o agricultor tem poucas oportunidades de venda com boa remuneração, como acontece com a soja e o milho. Isso também explica a baixa oferta do cereal. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que a área plantada no país diminuiu mais de 10% na comparação com a temporada anterior.

Portanto, a partir de agora, ao olhar as gôndolas das padarias, lembre-se de que não são apenas os eletrônicos, perfumes e viagens para o exterior que estão mais caras. O pão do seu café da manhã também é cotado em dólar.