Assim como a seca, chuvas também trazem sérios prejuízos

Podridão de raízes, aparecimento de pragas e proliferação de doenças são alguns problemas gerados por contínuos e volumosos períodos de precipitações

Daniel Popov, de São Paulo
Dezembro promete ser bastante chuvoso em algumas regiões do país, como o Sudeste e o Centro-Oeste, que segundo a meteorologia receberão volumes acima da média para o período. Apesar de, na maioria das vezes, isso ser considerado algo bom pelos produtores, o volume excessivo de água na planta e encharcamento do solo traz sérios prejuízos ao desenvolvimento da soja.

Em períodos muito chuvosos alguns problemas podem tirar o sono dos sojicultores, como o surgimento da ferrugem asiática, mosca branca, podridão de raízes entre outros, garante o pesquisador da Embrapa Soja, Henrique Debiasi. “Problemas surgem com o encharcamento do solo, longo período de molhamento foliar e baixa qualidade e quantidade de luz”, conta ele.

O encharcamento do solo, causado pelo grande volume de precipitações, diminui a quantidade de oxigênio no solo, limitando a respiração das raízes, que sem energia deixam de absorver os nutrientes necessários para desenvolvimento da planta. “Sem estes nutrientes a planta não se desenvolve como deveria e a produtividade é bastante afetada”, afirma Debiasi. “Quanto mais tempo o solo ficar encharcado, maiores serão as perdas.”

Este excesso de água também causa algumas doenças radiculares na planta, como a podridão de raiz. Este mal causa apodrecimento de sementes, morte de plântulas, redução de crescimento e morte de plantas adultas em qualquer fase de desenvolvimento, podendo afetar extensas áreas de cultivo, levando a replantios ou à redução de estande e de produção.
Outro efeito desta falta de oxigênio no solo é a diminuição das bactérias fixadoras de nitrogênio (denominadas rizóbios), nutriente fundamental para o desenvolvimento das leguminosas. “Para a soja, o nitrogênio é um dos principais nutrientes e sem estas bactérias fixadoras, a planta também terá deficiência deste item e perda de produtividade”, explica o pesquisador.

Já os efeitos dos prolongados e contínuos períodos de chuvas na parte superior da planta são um pouco mais sérios. Segundo a pesquisadora da Embrapa, Claudine Seixas, este molhamento foliar continuo favorece o surgimento de doenças como a ferrugem asiática, caso os fungos da doenças estejam presentes na lavoura. “Para favorecer o surgimento da doença, os esporos precisam de seis horas de molhamento foliar para se desenvolverem”, explica Claudine. “Já o Mofo Branco, além dos longos períodos de chuvas necessita também de temperaturas mais amenas para se proliferar.”

Para piorar, estes longos períodos de chuvas também inviabilizam a colocação de máquinas no campo favorecendo a proliferação destes males. “Desesperados com o surgimento de doenças, muitos produtores aproveitam a parada das chuvas, mesmo com o solo encharcado, para colocarem as máquinas no campo e gerando problemas de compactação, por exemplo”, comenta ele.

Sistema radicular de plantas de soja em fase inicial de desenvolvimento (A) e por ocasião do início do florescimento (B), em função do excesso de umidade no solo. Foto: Rodrigo A. Garcia
Sistema radicular de plantas de soja em fase inicial de desenvolvimento (A) e por ocasião do início do florescimento (B), em função do excesso de umidade no solo. Foto: Rodrigo A. Garcia