O trabalho de pesquisa deve contribuir decisivamente para a recuperação do São Francisco, principalmente na região do chamado baixo São Francisco, em Alagoas. Este trecho é uma dos mais prejudicados pela ação do homem, principalmente com a construção das hidrelétricas de Três Marias, Sobradinho, Itaparica, Paulo Afonso e Xingó, que afetaram diretamente o leito e a vazão natural do rio.
Com apenas um ano de funcionamento, o Centro já passa por processo de ampliação, com a construção de novos tanques, passando de 13 para 16 hectares de área total. Além de equipamentos de última geração, utilizados nas pesquisas, o local dispõe de auditório, alojamentos, estação de tratamento de água, laboratórios e até uma fábrica de ração.
De acordo com Eduardo Motta, engenheiro de pesca da Codevasf e coordenador do projeto de implantação do Ceraqua, o Centro conta atualmente com uma equipe multidisciplinar, composta por engenheiros de pesca, zootecnistas, médicos veterinários e biólogos, que buscam avanços como melhorar a qualidade dos peixes para consumo humano, a identificação de espécies ainda existentes no São Francisco, entre outros aspectos.
? Os trabalhos desenvolvidos no Centro estão formando uma rede na área de genética. Muitas instituições já estão de olho nos resultados e realizam também pesquisas no local, a exemplo da Embrapa e da Universidade de Valência, na Espanha, que busca acordo de cooperação internacional com o Brasil através do Ceraqua ? assegura o coordenador.
Para a professora Denise Pinheiro, do Instituto de Química e Biotecnologia da Ufal, está comprovado que o Baixo São Francisco é o trecho que mais sofreu com a ação do homem, fato que reforça ainda mais a necessidade de ações para a recuperação do rio.
? O trabalho de pesquisa que desenvolvemos é uma maneira de darmos uma resposta à sociedade, no sentido de contribuir para frear a degradação do rio ? afirma a professora, que iniciou estudo no Ceraqua, há sete meses.
Os estudos desenvolvidos atualmente no Ceraqua incluem a identificação da variedade de peixes ainda existentes no Rio São Francisco, incluindo espécies nativas e introduzidas, também chamadas de exóticas, ou seja, vindas da bacia de outros rios e até de outros países, a exemplo da conhecida Tilápia, trazida do Rio Nilo, na África. O trabalho visa identificar até que ponto está a degradação do rio, a partir do conhecimento da quantidade e tipos de peixes e apresentar soluções para a questão.
Os principais beneficiados com os projetos do Ceraqua em Alagoas devem ser os moradores ribeirinhos, principalmente os que vivem da pesca, além dos produtores e da população como um todo. Somente no perímetro irrigado de Itiúba são aproximadamente 800 criadores de peixes. Em todo o Estado estima-se que existam mais de 2.600 pescadores filiados a colônias.
Muitos deles já desfrutam das ações promovidas através do Centro, como o rodutor Augusto Dantas Lima, que mantém um tanque na região de Itiúba, em Porto Real do Colégio. Com a experiência que possui, ele decidiu cultivar a espécie xra, por ser mais rentável economicamente. Outra vantagem da xira é que ela se alimenta da vegetação no próprio tanque, enquanto as demais necessitam de ração, considerada o principal gargalo para os produtores da região e que chega a representar até 80% no custo de produção.