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Amazônia: ações voltadas para bioeconomia podem beneficiar 750 mil famílias

As estratégias podem melhorar a qualidade de vida de vários agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais que habitam a Amazônia

Ações voltadas à bioeconomia inclusiva são capazes de melhorar a vida de 750 mil famílias entre agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais que habitam a Amazônia brasileira.

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  • De acordo com as informações da Embrapa, essas populações e os seus conhecimentos têm papel fundamental no desenvolvimento sustentável da região. São conclusões obtidas de uma série de dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Embrapa e outras instituições, apontando que é possível o desenvolvimento social e ambiental da Amazônia de uma forma inclusiva.

    Um dos estudos sobre o potencial da bioeconomia foi publicado este mês: “Visões sobre bioeconomia na Amazônia: Oportunidades e desafios para a atuação da Embrapa”, elaborado por oito especialistas da entidade.

    O documento ressalta que o bioma exige diferentes estratégias de bioeconomia, uma vez que ele é heterogêneo em suas características sociais, econômicas, ambientais e culturais, reunindo realidades distintas.

    “Um entendimento do que é, e do que pode se tornar, a bioeconomia no contexto amazônico é o ponto de partida para a atuação de instituições de ciência e tecnologia nos ecossistemas de inovação da região. Essa foi a premissa do trabalho,” conta Daniela Lopes, coordenadora do estudo da Embrapa, o qual contou ainda com consultas a outros profissionais da Empresa e traz referências a documentos externos.

    Voltado a subsidiar as ações da Embrapa no bioma, o estudo reuniu informações que demonstram que a bioeconomia é geradora potencial de benefícios sociais, ambientais e econômicos para a Amazônia.

    “Esse pode ser o caminho para se reverter o grande paradoxo da região Amazônica, marcada pela riqueza e abundância de recursos naturais e pela extrema pobreza das populações e comunidades locais”, frisa o pesquisador Judson Valentim, responsável pelo Portfólio Amazônia, conjunto de projetos de pesquisa da Embrapa relacionados ao bioma.

    O Código Florestal determina que entre 50% e 80% da área desse bioma deve ser mantida com vegetação nativa. “Para que esses recursos florestais se traduzam em desenvolvimento econômico e social para a população, é preciso investir na geração de tecnologias de bases sustentáveis”, defende Valentim.

    Amazônia
    Foto: Ronaldo Rosa Vale/Embrapa

    O que é bioeconomia na Amazônia?

    Segundo a Embrapa, a bioeconomia se trata de uma economia sustentável, focada no uso de recursos da biodiversidade, considerando conhecimentos tradicionais e aliada aos avanços tecnológicos em processos químicos, industriais e de engenharia genética.

    Tem como objetivo a valorização das práticas regenerativas na região amazônica de modo a assegurar a inclusão social, a qualidade de vida, além da conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos.

    Ciência e conhecimentos tradicionais para manter a floresta

    Para a pesquisadora Ana Euler, diretora-executiva de Negócios da Embrapa e coautora do estudo, a bioeconomia da sociobiodiversidade deve orientar o desenvolvimento na região. Ela diz ser necessário estruturar as cadeias de valor com investimentos em infraestrutura, formação de capital humano e tecnologias (sociais, digitais, biotecnológicas).

    O conceito expressa a inter-relação entre a diversidade biológica e a de sistemas socioculturais. Os produtos da sociobiodiversidade são bens e serviços (produtos finais, matérias-primas ou benefícios) gerados a partir de recursos da biodiversidade.

    Esses produtos são voltados à formação de cadeias produtivas de interesse dos povos e comunidades tradicionais e de agricultores familiares, que promovam a manutenção e valorização de suas práticas e saberes, e assegurem os direitos decorrentes, gerando renda e contribuindo para a melhoria de sua qualidade de vida e do ambiente em que vivem.

    “A agregação de valor aos produtos florestais tem o potencial de beneficiar povos indígenas, comunidades tradicionais e produtores rurais que vivem na região. Integrar o conhecimento ancestral desses povos com a ciência é o principal caminho para manter a floresta em pé e promover o bem-estar humano e o desenvolvimento sustentável na Amazônia,” ressalta a diretora.

    “Criar oportunidades para as pessoas que moram na Amazônia é a melhor maneira de enfrentar os atuais problemas da região”, defende Euler.

    Valentim conta que há vários resultados de sucesso na pesquisa que nasceram da união entre os conhecimentos tradicionais e científicos das populações amazônicas.

    Entre eles, destacam-se os que comprovam o potencial de microrganismos do guaranazeiro para a agricultura e a saúde humana e o do óleo de uma planta amazônica conhecida como pimenta-de-macaco (Piper aduncum) para controlar pragas, além de inúmeros outros exemplos.

    Amazônia
    Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa

    Economia da sociobiodiversidade

    Um estudo da The Nature Conservancy (TNC Brasil) estimou que, em 2019, somente no estado do Pará, 30 produtos de cadeias da chamada sociobiodiversidade responderam por uma renda de cerca de 5,4 bilhões de reais, gerando 224 mil empregos, 84% deles em estruturas produtivas de base familiar.

    “A oportunidade é contribuirmos, com conhecimento técnico-científico, para que modelos sustentáveis de bioeconomia apoiem o desenvolvimento regional, gerando prosperidade para as comunidades amazônidas”, pontua Lopes.

    Em uma consulta a especialistas da própria Embrapa, os autores perguntaram quais seriam os temas mais importantes associados à bioeconomia na Amazônia.

    Na percepção dos entrevistados, os dois temas considerados mais relevantes foram: “tecnologias sociais e agregação de valor às cadeias produtivas da sociobiodiversidade” e “desenvolvimento de bioprodutos e bioativos, a partir da biodiversidade amazônica”. Para os entrevistados, essas pautas devem nortear boa parte dos esforços da pesquisa científica na região.