PEDIDO DA AMPA

Aprosoja-MT afirma surpresa com aprovação de plantio excepcional de soja

Entidade representante de mais de oito mil produtores de soja frisa que o período do vazio sanitário de 90 dias "sempre foi sagrado"

“Surpresa” e “afrontamento”. Estas são as palavras da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) quanto a autorização do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) de plantio excepcional de soja a partir de 1º de setembro no estado. A decisão atende a um pedido da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa) com o intuito de mitigar o risco climático na cultura de algodão segunda safra.

A autorização foi concedida no dia 16 de agosto pelo Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas, da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA), do Mapa. O plantio a partir de 1º de setembro ocorreria ainda durante o período de vigência do vazio sanitário estabelecido no estado, que é de 15 de junho a 15 de setembro.

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Foto: Canal Rural Mato Grosso

“É com surpresa e afrontamento aos seus mais de 8 mil associados que a Aprosoja/MT recebeu a informação. Isto porque, independentemente das recentes discussões acerca do calendário do plantio da soja no estado, para esta Associação e seus associados, o período do vazio sanitário da soja de 90 dias, sempre foi sagrado, e considerado medida mais eficaz contra a proliferação da ferrugem asiática nas lavouras de soja no Estado”, declara o presidente da Aprosoja-MT, Fernando Cadore, em nota.

A Aprosoja-MT frisa que no próprio ofício de autorização o “Mapa orienta a avaliação conjunta entre o setor produtivo e as instituições oficiais de Defesa Agropecuária do Estado do Mato Grosso com relação à antecipação do período de vazio sanitário e, consequentemente, do calendário de semeadura de soja no estado de Mato Grosso a partir das próximas safras”.

Programa Nacional de Controle

No dia 2 de agosto deste ano, o Ministério da Agricultura publicou a portaria nº 865, que institui o Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja – Phakopsora pachyrhizi (PNCFS). O programa visa ao fortalecimento do sistema de produção agrícola da soja, congregando ações estratégicas de defesa sanitária vegetal com suporte da pesquisa agrícola, bem como da assistência técnica na prevenção e controle da doença.

De acordo com o Artigo 7º, inciso 2º, “A Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e Pecuária, na condição de Instância Central e Superior do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária, que lhe confere o inciso II do Artigo 22 do Decreto nº 11.332, de 2023, estabelecerá anualmente, em ato normativo próprio, os períodos de vazio sanitário em nível nacional, com pelo menos 90 (noventa) dias sem a cultura e plantas voluntárias no campo”.

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Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

A portaria do dia 2 de agosto ressalta que o período de vazio sanitário das unidades federativas “serão estabelecidos com base em dados de pesquisa científica, do monitoramento da praga na safra anterior, nos resultados dos ensaios de eficiência de fungicidas, nas condições edafoclimáticas, entre outros” e que “Os Órgãos Estaduais de Defesa Sanitária Vegetal poderão apresentar propostas relativas aos períodos de vazio sanitário no âmbito das suas respectivas unidades da federação, até o dia 31 de dezembro do ano anterior”.

A Aprosoja-MT pontua ser contrária ao plantio excepcional a parte de 1º de setembro diante os riscos e salienta que “Causa surpresa ainda, que nenhum argumento técnico substancial foi apresentado pela Ampa e pelo Mapa para justificar tal medida. Nem sequer a Embrapa foi consultada a respeito”.

Segundo a entidade representativa dos produtores de soja no estado, dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostram uma projeção de valor bruto da produção (VBP) da agropecuária projetado para 2023 será de R$ 201,48 bilhões, sendo a produção de soja responsável por 50,41% deste valor ante 12,45% representado pela produção de algodão.

Hoje, Mato Grosso semeia mais de 12 milhões de hectares de soja, enquanto em algodão 1,2 milhão de hectares.

O calendário de semeadura da soja 2023/24 em Mato Grosso vai de 16 de setembro a 24 de dezembro. O período consta na Portaria nº 840 que estabelece os calendários de semeadura da oleaginosa, publicado no dia 11 de julho pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

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Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

Posicionamento da Ampa

Em nota enviada ao Canal Rural Mato Grosso, o diretor-executivo da Ampa, Décio Tocantins, declarou que a entidade age “com a perspectiva de mitigarmos esse risco climático na cultura do algodão, como exemplo um eventual corte das águas em final de março e começo de abril. Aliás esse fato infelizmente ocorreu no ano de 2022, reduzindo drasticamente as produtividades do algodão mato-grossense nas suas diversas regiões de plantio”.

A autorização do Mapa à solicitação da Ampa tem gerado discussões em meio ao setor produtivo de Mato Grosso, uma vez que a Aprosoja-MT teve o seu pedido de extensão da semeadura da oleaginosa até fevereiro negado, além de o Ministério ter restringido o prazo de plantio até 24 de dezembro, sob a alegação de que o plantio mais tardio ampliaria a ponte verde para a proliferação da ferrugem.

Em seu parecer, a Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura destaca que, pela ferrugem asiática se tratar de uma doença foliar, os eventuais sintomas da doença podem aparecer somente a partir do estádio de desenvolvimento V1, ou seja, primeiro nó foliar. A Secretaria pontua ainda, ao citar estudos da Embrapa, que s primeiras semeaduras realizadas após o vazio sanitário tendem a apresentar sintomas da doença a partir da fase de enchimento de grãos, quando apresentam.

“Essas informações, somadas à já conhecida e tradicional responsabilidade fitossanitária que os produtores de algodão dedicam às suas lavouras de soja, de algodão, de milho, etc, nos levam a crer que a mitigação do risco climático nesta futura safra 2023/24 justificará essa medida”, diz o diretor-executivo da Ampa.

 

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