Área plantada de soja no Rio Grande do Sul deve crescer 5% em 2014/2015

Crescimento é abaixo da média dos últimos anos, chegando a 5,2 milhões de hectares. Apreensão dos produtores é com o câmbio e os preços da oleaginosa

Cristiane Viegas | Porto Alegre (RS)

O plantio de soja no Rio Grande do Sul deve começar daqui duas semanas. O Estado, que é o último a plantar o grão, deve apresentar crescimento de área. Com preços remuneradores na hora da decisão, o produtor gaúcho optou por ampliar a área plantada. Mas o aumento vai ser menor do que o registrado nas temporadas passadas. Na safra 2014/2015, o RS deve ter crescimento de 5% na área de cultivo, alcançando 5,2 milhões de hectares.

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O economista da Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Sistema Farsul) Antônio da Luz prevê preços menores para a oleaginosa. A cotação vem sendo pressionada por causa da safra norte-americana, que deve bater recordes de produção.

– Essa área de soja compete principalmente com área de pecuária de corte, que vive um momento de ascensão de preços. Então aquela facilidade que o produtor tinha para converter uma área na outro, este ano não se verifica. Porque a pecuária de corte está se recuperando e a soja tende à queda de rentabilidade. O mundo não está perdendo o interesse na soja, não houve um enfraquecimento da demanda. O que está acontecendo é que os Estados Unidos tiveram uma produtividade excepcional. Isso nos leva a acreditar que é apenas um ciclo, não significa que o negócio não seja bom – analisa.

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Se o clima ajudar, a produtividade deve ser melhor, alcançando média de 2,8 toneladas por hectare.

– 2014 foi um ano em que tivemos estiagem no Rio Grande do Sul. Isso derrubou a produtividade. Mas isso não deverá se repetir em 2015. Muitos meteorologistas apontam um regime de chuvas superior. Caso se confirme, teremos produtividades maiores com uma área igual ou maior. Uma produção maior também, rompendo a barreira dos 14 milhões de toneladas – comenta da Luz.

O aumento de área da soja no Rio Grande do Sul também está relacionado ao preço do milho, que teve queda ainda maior. Com o dólar se valorizando, o produtor aposta nas exportações, o que pode melhorar a renda. Mas as contas também ficam mais caras, já que os insumos são importados e também variam conforme o câmbio.

– A gente vem de duas safras de preços bons. A gente chegou a ter uma saca cotada a mais de R$ 90,00 no Rio Grande do Sul. Vamos trabalhar 2014/2015 com uma média de R$ 60,00. Hoje, por exemplo, o valor é de R$ 56,58 no interior, mas não deve subir muito. Chicago não deve passar dos US$ 11,00 ou US$ 12,00/bushel, mas o que pode melhorar é o dólar. O câmbio melhorando deve melhorar o preço do produtor gaúcho, mas também o custo deve subir um pouco – comenta Luiz Fernando Roque, consultor de Safras&Mercado.

A Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro-RS) apresentou levantamento com base na primeira semana de setembro. O documentou apontou aumento no custo de produção dos grãos. A soja ficou com o custo total de produção em R$ 2.600 por hectare. A produtividade média considerada foi de três toneladas por hectare, com preço de R$ 54,00 a saca. Os dados mostram recuo na margem de lucro do produtor.

– Dois fatores básicos: tivemos aumento nos custos de produção, principalmente serviços, combustível e produtos químicos, que está se usando muito em termos de soja, por causa das lagartas. E o segundo aspecto é a menor perspectiva de faturamento por causa dos baixos preços da soja, em relação à 2013/2014. Isso deu uma perspectiva de custo de produção, com resultado 39% menor que ano passado, mas ainda é positivo, pior ainda seria milho ou trigo. Talvez por isso que tivemos aumento de área. O produtor, ainda que ganhando menos, ainda encontra na soja a melhor opção tem dentro as culturas de verão – explica o presidente da Fecoagro-RS, Paulo Pires.

Mesmo com custos mais altos e preços menores, o consultor Luiz Fernando Roque defende que a demanda deve continuar aquecendo o mercado.

– A China deve entrar comprando mais, e um dos principais produtores são Brasil, Estados Unidos e Argentina. Então o Brasil vai se beneficiar disso, deve exportar mais, o porto de Rio Grande deve trabalhar em patamares bons, até mais que Paranaguá. Ano passado tivemos isso, e esse ano teremos o mesmo panorama – afirma Roque.

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