Artigo: Evolução ou retrocesso na produção de soja?

Temos que entender que não há tecnologia definitiva para o cultivo da soja, ainda mais quando se busca altos rendimentos em um sistema sustentável

*Áureo Lantmann

Iniciado na safra 2012/2013, o Projeto Soja Brasil acompanhou até agora o desempenho de lavouras de soja durante quatro anos em praticamente todo o território nacional. Onde é viável o cultivo desta leguminosa, nós já passamos.

Uma observação muito importante é o rendimento médio de soja no Brasil durante esses quatro anos, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Na safra 12/13 foram 2.938 kg por hectare; safra 13/14 com 2.854 kg/há; safra 14/15 com 2.998 kg/ha e a projeção para esta safra, 15/16, o rendimento de 3.073 kg/ha. O melhor rendimento médio nacional foi verificado na safra 10/11, com 3.115 kg/há, ou seja, não tivemos no período considerado um aumento médio de rendimento, ficamos estacionados em 50 sacas/ha (medida do Mato Grosso) ou 121 sacas/alqueire (medida do Paraná).

• Leia ao artigo anterior: A lição da safra de soja 2015/2016

Cabe neste contexto analisar se tivemos uma evolução ou involução, em termos de rendimentos. Independente do uso de novas ou velhas, a produtividade média de soja no Brasil não evoluiu. O lado positivo é que pudemos observar algumas atitudes de agricultores, bem orientados por engenheiros agrônomos, que vão trazer resultados positivos.

O crescimento de áreas semeadas com soja convencional não deixa de ser também uma evolução. Isso porque variedades convencionais são tão produtivas como as transgênicas e têm um custo mais barato. Temos que entender que não há tecnologia definitiva para o cultivo da soja, ainda mais quando se busca altos rendimentos em um sistema sustentável. O uso contínuo de mesma tecnologia durante muito tempo leva a uma seleção de ervas daninhas, de pragas e de doenças, que acabam ficando altamente resistentes aos tratamentos químicos.

Outro comportamento que mostra a evolução dos agricultores tem sido o entendimento e a aplicação do conjunto de procedimentos que fazem do Manejo Integrado de Pragas (MIP) uma ferramenta fundamental no controle de insetos pragas e a maximização do potencial de inseticidas.

A aceitação dos agricultores de que a rotação de culturas potencializa o resultado de qualquer tecnologia é uma evolução. Agricultores que repetem a sucessão de culturas soja/milho safrinha (isso é sucessão e não rotação) numa mesma área durante mais de quatro anos estão em um processo de retrocesso.

Esta involução se apresenta na redução de áreas com plantio direto, já que a maioria das tecnologias geradas nas diversas instituições de pesquisa do Brasil pressupõe que o produtor adota a técnica de cultivo. Desta forma, ao não seguir à risca as recomendações, as tecnologias ficam comprometidas e não vão oferecer seu máximo potencial de utilização.

Soja cultivada em solos sem cobertura representa um processo de  retrocesso (Áureo Lantmann/Arquivo Pessoal)
Soja cultivada em solos sem cobertura representa um processo de retrocesso (Áureo Lantmann/Arquivo Pessoal)

Durante alguns anos, quase uma década de trabalho, o estado do Paraná construiu um projeto de conservação do solo. Isso ficou como um exemplo e durante muitos anos os solos do estado preservaram sua capacidade produtiva. Porém, em função do tamanho de maquinas da facilidade de transito nas lavouras para semear e aplicar defensivos, simplesmente se destruiu terraços e curvas de níveis.

Nesta safra 15/16, com as consequências do El Niño, chuvas de grande volume arrastaram imensas quantidade de solo, promovendo erosão e consequente perda da fertilidade. A eliminação das curvas de nível e terraços se caracteriza bem como um processo de involução.

A evolução não está na oferta de tecnologias para maiores rendimentos de soja, mas, sim, na postura de agricultores e técnicos.

*Áureo Lantmann é engenheiro agrônomo, foi pesquisador da Embrapa Soja e é consultor técnico do Soja Brasil desde a primeira edição, safra 2012/2013

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