Atoleiro obriga sojicultor a paralisar colheita da soja por 10 dias

Operador de maquinário ajudou quase 70 caminhões carregados com grãos e calcário a saírem da lama. Veja fotos e vídeos da estrada!

Pedro Silvestre, de Paranatinga (MT)
Não é novidade que a cada ano, sempre no momento da colheita da soja, o clima chuvoso transforma as estradas já sem condições de Mato Grosso em verdadeiras armadilhas. Um bom exemplo disso é a MT-130, que não passa nada a não ser tratores e maquinários com esteiras lagartas. Um produtor rural precisou parar a colheita da oleaginosa por dez dias, por seu caminhão ter ficado preso no atoleiro.

Imagine que a sua lavoura já está pronta para ser colhida e as chuvas de verão ameaçam a qualidade dos grãos que esperam no campo, mas você não consegue colher por não poder usar o caminhão devido os atoleiros. Pois foi exatamente essa sensação de impossibilidade que o produtor Robson Weber, de Paranatinga, sentiu ao ter que parar os trabalhos por 10 dias.

“A estrada está estado de calamidade, totalmente intransitável, e isso acabou atrapalhando os trabalhos dentro da propriedade.Os caminhões não iam e nem voltavam, vários ficaram atolados na estrada”, conta Weber.

Até agora o agricultor conseguiu colher apenas 15% da área de 1.700 hectares e esse atraso já deve ter impacto na produtividade. A expectativa inicial era conseguir 58 sacas por hectare.

“Dará diferença no peso do grão. Percebemos que o grão ficou com uma cor mais pálida. Não consigo contabilizar ainda, mas perdeu com certeza. Em uma safra já complicada ter menos dinheiro no bolso por conta da logística, é um absurdo. Ainda mais pagando um imposto voltado para isso”, diz Weber.

Em outra fazenda da região os atoleiros não travaram a colheita, mas sim o escoamento da soja. O gerente da fazenda, Rubilar Pedro Calgáro Filho confirmou que os problemas acontecem todos os anos e por isso os produtores precisam investir em armazéns para não ter o problema que Weber contou.

“Se nós tivéssemos a mercê dessa rodovia para tirar a nossa soja do campo, estaríamos perdidos. Faz mais de uma semana que não passa um caminhão aqui. Nem nosso combustível chega.Estou aqui há 16 anos e confesso que está cada vez pior. Não consigo vender nada agora, não existe ninguém que venha buscar uma carga de soja agora. Com isso, nosso produto perde muito o valor”, explica Calgáro Filho.

A MT-130 tem 258 quilômetros não pavimentados entre Paranatinga e Santiago do Norte. É considerada uma das principais rotas para o escoamento da safra nesta região. Quem depende da estrada para trabalhar, reclama do descaso e a falta de manutenção.

“A estrada foi deteriorando com o passar dos anos, vivendo sempre da promessa de que seria asfaltada. Mas há 30 anos se mudam os governos, surgem novas promessas, mas nada acontece. A cada chuva tranca tudo de novo e essa é a nossa preocupação, pois contratamos caminhão do Paraná, eles vêm contratado, eles trabalham dois dias e desistem, a menos que o valor a ser pago aumente”, relata o presidente do Sindicato Rural de Paranatinga, Thomas Paschoal.

O motorista Gerson Luiz Harpmann conta que o seu caminhão carregado com calcário vindo de Paranatinga ficou encalhado em um dos trechos críticos da MT-130. Graças à ajuda de um operador de máquinas ele ficou apenas uma noite ali parado, bem diferentes de outras vezes, que ele não teve tanta sorte.

“Aqui choveu não passa nada. São vários os pontos com atoleiros. Dormi no caminhão, sem tomar banho, passando fome, até chegar ajuda. Outra vez fiquei quatro dias esperando ajuda. Para se entender o problema, mesmo com tempo bom, levo 10 horas para atravessar os 180 km. Se tivesse asfalto faria o trajeto na metade do tempo”, diz Harpmann.

O operador de máquinas que ajudou o caminhoneiro se chama Valdinei Rui Dias e foi responsável por desencalhar quase 70 caminhões nos últimos dias.

“Tinha uns 70 caminhões aí, tive que puxar quase todos. Poucos foram os que passaram, vindos tanto da cidade quanto das fazendas. Todos os dias tem fila de caminhões nesses atoleiros, o trem é complicado, se não for a ajuda da máquina não sai, tem muitos que precisam ser puxados, porque é peso demais”, afirma Dias.

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